quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

De novo sobre o amor...


É que o amor vem em contra partida à revolta.
Revolto-me com o que não agrega e descubro que amo o oposto.
Olho para tudo que me inquieta, tira o sono e por vezes me faz desanimar e decido que o outro caminho é que me enche de paz e me coloca em sintonia com o universo... Com o meu universo.
A verdade é que quando se grita se descobre onde está o silêncio e quando se está em contato direto com o ódio descobre-se o caminho do amor...
Em meio a turbulências não somos capazes de encontrar saídas, justamente por buscar a solução onde está o problema, por querer se equilibrar mediante ao que te faz perder a sanidade.
Que tal outro caminho?
Quando te disserem que o amor dói, faz sofrer, fere e te faz perder o sentido, aprenda a responder que essas são as coisas que te fazem entender que ainda não o encontrou...
E prossiga...

Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Permitir


Em respeito ao meu momento de transição, permito.
Permito os erros, as contradições e confusões dentro do meu peito.
Permito a escalada, permito que cada ação me leve aonde deve e me permito ter força e criatividade pra encontrar as soluções.
Permito o crescimento, a angústia revirando o estômago e a esperança que mesmo quando em baixa, se faz presente.
Permito me desmentir, desfazer e remontar...
Permito cada dia como único. Plantio e colheita. Passo firme no presente com a cabeça erguida visando o futuro.
Permito que o passado me visite sempre que as lições precisem ser lembradas para que não cometa os mesmos erros...
Me permito SER!
Ser muito de mim com interferências de você e do ambiente.
Permito a modelagem do tempo, a reconfiguração dos afetos e as novas formas de olhar.
Permita-se também!! 


Andréia Ribeiro Lemos

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

De onde vem?



Pode vir como uma inquietação pelo corpo, fisgadas no estômago, irritações na pele, pensamentos exagerados e enfim atitudes desproporcionais. Os sentimentos que nos atravessam de maneira imprevista, se assim podemos dizer, navegam por momentos passados, expectativas frustradas e tudo o que fomos deixando de lado para prosseguir, sem reflexão.

A raiva que sente agora, que gera atitudes desproporcionais ao momento presente, pode vir de lugares bem mais profundos do que supõe. Dentro de cada pessoa existe uma criança que pode ter sido abusada, negligenciada, abandonada, presenciado o que não deveria, privada de sua infância, e muitas mais...

O caminho de volta não é fácil. O ideal de vida é ir em frente, sempre em frente, com o passado adormecido, enquanto quebra a cabeça e se pergunta constantemente porque está sempre repetindo os mesmos padrões. Vive-se liberando aspectos passados em doses diárias, sem questionamentos, culpando a Deus, ao universo, ao mundo ou ao que quer que seja pelos acontecimentos presentes.

E quem é capaz de compreender que voltar é a melhor maneira de prosseguir? Prosseguir com entendimento de cada parte da sua personalidade, ressaltando qualidades, domando más tendências e tendo sabedoria nas ações que te respeitam e respeitam o espaço do outro. Seguir em guerra com a vida, se debatendo e não enxergando as pessoas a sua volta também é uma opção, mas te desafio a prosseguir em paz, mesmo com seus erros, aprendendo e se deliciando com a pessoa que pode se tornar...

Também eu estou nesse processo.


Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Coragem para deixar ir



Porque todos os sentimentos que temos em relação a alguém é vínculo. Até mesmo quando tudo o que há de bom deixa de existir, somos capazes de nutrir qualquer sentimento para continuar preso a pessoa. Nutrimos raiva e ressentimentos porque não queremos, não estamos prontos para deixar ir, e mesmo que a ligação seja ruim, é melhor do que não ter ligação alguma.

Os motivos do porque cada um se prende são diversos, mas o importante é entender a necessidade de deixar ir para  que também possa seguir... liberar o seu caminho e deixar que novas pessoas e novas experiências cheguem até você.

Vínculo só se faz necessário quando agrega, de resto, deixa que o mundo se encarregue de colocar cada um no seu devido lugar.


Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Um passo de cada vez



Primeiro a reconciliação com tudo o que te aconteceu, com o que fizeram de você e com o que permitiram que te acontecesse. Depois a reconciliação com tudo o que você foi, tudo o que fez, tudo o que permitiu que acontecesse e o que não se permitiu viver.

Mais à frente, a aceitação de onde todos os acontecimentos te levaram, o reconhecimento de tudo o que foi capaz de aprender a reproduzir ou produzir para sobreviver. De tudo o que internalizou e todas as ações e pensamentos que desde outrora fazem parte do seu ser e te constituem.

Reconhece, aceita e só depois muda...
Entende os seus porquês e poréns...
Compreende as dores reais e as criadas pelo medo de repetir situações.
Integra-se. Entende-se como parte do todo.

Monta o quebra cabeça e segue...
Encontra-se agora no presente, enquanto planeja o futuro. Não vive mais no passado, foi constituído por ele, mas nele já não faz morada.
Se aceita, se acolhe, se ama...
e então floresce!


Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Insegurança


Mas calma aí! Essa insegurança é minha ou é sua?


"... buscava sentido, durante a sua caminhada matinal, no porque ele estava ali ao mesmo tempo em que não estava. No porque seus elogios vinham carregados de comparações e no quanto cada encontro a fazia procurar falhas em si mesma. Repassava as cenas em sua cabeça, e um misto de raiva e confusão se sobressaiam perante outros sentimentos... Será que o problema realmente sou eu?"


Completude não é algo fácil de se conseguir, o caminho é árduo e os questionamentos sempre farão parte do processo, estes virão através de pessoas que não respeitam sua autenticidade ou são simplesmente criaturinhas perversas.

Preguiça de joguinhos! Porque pra qualquer pessoa com o mínimo de lucidez é fácil perceber que deles não há vencedor, só participantes. Gerar insegurança proposital no outro evidencia o seu ego inflado, sua falta de empatia e o seu medo de vivenciar emoções verdadeiras.

Alguém conta pra moça do pequeno conto, que inseguro é quem não consegue ser quem é e desvia o foco do seu crescimento em tentar atrasar os outros, é quem não consegue ver algo verdadeiramente bonito sem tentar destruí-lo, é quem tenta despertar no outro o que de pior pode haver nele pra que ninguém perceba que na realidade, é ele quem não tem nada para oferecer.


Andreia Ribeiro Lemos 

quinta-feira, 5 de julho de 2018

O que você faz de você? E o que você faz com o outro?



Talvez não tenha percebido ainda, mas há incríveis semelhanças entre o seu comportamento e o comportamento de alguém que te machucou, te ofendeu de alguma forma. 
E quando foi que você se tornou aquilo que não aprecia nos outros? Talvez exista mais do que ter que escolher entre ser a vítima ou o agressor...

Regidos pelo medo de sofrer, pelo impulso e pela sobrevivência, pulamos de um polo para o outro e por fim escolhemos o "menos mal". Andei lendo por aí que pessoas feridas ferem as outras, concordo em partes, todos estamos feridos de alguma forma... 
Pessoas que não cuidaram de suas feridas, ferem os outros, e consequentemente a si mesmas.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 24 de junho de 2018

Terapia



Você vai perdendo o medo de olhar além, e ao invés de fechar os olhos diante de situações dolorosas e acontecimentos passados, vai querendo abri-los cada vez mais.

A ideia de que algo irá te quebrar e te destruir vai perdendo força, conforme você toma consciência de que consegue superar. Deixa de acreditar, que depois de um tombo não será capaz de levantar, ou que não é capaz de aguentar as consequências e frustrações por tentar algo e não conseguir, ao menos não do jeito que planejou.

Vai deixando pra trás a ilusão de que tudo precisa dar certo, quando descobre que é quando dá errado que você aprende e cresce. E tudo que acontece, de um modo preparatório, vai fazendo sentido. Que as experiencias e sensações são armazenadas em nós e nos ajudam em situações futuras. 

E você vai sendo preparado, ressignificando as perdas, os machucados e cicatrizes, e continua, entendendo que agora terá mais força para lidar com o que virá.

Siga...

Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 19 de junho de 2018

As crises de cada dia...


"Caramba que surto!"
"Estou em crise mais uma vez! Que droga!"
"Que vergonha de não conseguir me manter em equilíbrio a maioria dos dias, assim como todos fazem."
"Aposto que todos já sofreram por coisas que nem possuem certeza se realmente estão acontecendo."  
"Aposto que mesmo que eu contasse pra alguém, poucos veriam o que tudo isso me causa." 
"Ninguém ta vendo, ninguém desconfia de nada." 
"É certo que se eu não contar, ninguém vai saber."

Eram esses os seus pensamentos, enquanto sentada no meio da cama tentava conter as lágrimas. Tinha vergonha de tudo o que sentia e alívio por estar sozinha e não precisar explicar nada pra ninguém. Que loucura pensar que o mundo te pede pra calar aquilo que mais precisa ser falado, que te pedem pra ocultar e disfarçar características que não dizem nada, além do fato de que você é humano.

Vergonhoso é não se aceitar humanamente imperfeito como se é. Não tenha vergonha de ao menos admitir pra si mesmo tudo o que te constitui, não se esconda de você mesmo.

"Curioso Paradoxo: Só quando me aceito como sou, posso então mudar" Carl Rogers.


Andréia Ribeiro Lemos

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Por que alguém precisa validar?




Esperava sempre a confirmação de tudo que viu, de tudo que sentiu e do que acreditava ter algum conhecimento. Buscava no outro a validação daquilo que estava dentro dela. 
Quem lhe tirou o direito de acreditar no que vê? Quem lhe tirou o direito de considerar seus próprios sentimentos como reais?

"Você sempre vê coisas onde não tem", "ninguém entende o que você ta querendo dizer", " isso não aconteceu".

Por que você deu o direito de que as pessoas lhe dissessem o que é certo ou não, o que é real ou não?
Por que continua esperando confirmação de vias que nunca foram capazes de lhe confirmar nada, ou de olhar além das aparências? Por que busca lucidez em meio aos deslumbrados?

Tá tudo lá dentro, no seu íntimo. Tá tudo lá fora, nas suas interações.

Aceita que as pessoas na maioria das vezes não vão mudar e espera que elas entendam que você mudará para sempre. Quer acreditar no que sente, no que vê e nas conclusões que tira de cada situação, enquanto lhe dizem que não, não é assim.

Quer continuar com os olhos abertos, buscando cada detalhe e cada situação que lhe traga paz e lucidez para encarar os dias, sem se esconder, sem fingir que é algo que não é, até o dia em que encontrará quem se assemelhe ao seu ponto de vista, mas sem se conter, sem se encolher, porque agora já não cabe mais em si.

Então, que transborde.


Andreia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Preencher


Olhando aquele vidro de perfume pela metade sentiu o coração acelerar. Olhou para um lado, para o outro e reparou que também o seu guarda roupa estava com espaços vazios. Estremeceu.
Nunca soube muito bem o porquê de não conseguir deixar com que uma coisa acabe pra sentir a necessidade de possuir outra, de ter mais.
Desde o nascimento o amor de sua mãe lhe foi negado, e na adolescência o pai entendeu que também já podia deixa-la. As brincadeiras com os irmãos também lhe foram tiradas bruscamente para que ao invés delas tivesse responsabilidades. 
Foi tirada da escola que gostava,  do canto, da dança e da aula de literatura, estava sempre incompleta, sem concluir nenhuma fase.
Não aprendeu a terminar o que começa, em contra partida, aprendeu que as coisas lhe seriam tiradas quando menos esperava. Que não podia confiar no chão, pois ele tinha a incrível mania de se abrir.
Olhou em volta com o coração aos saltos pensando em voz alta: preciso de mais, preciso repor o que já gastei, antes que de uma hora pra outra já não tenha mais.
Saiu e foi tentar preencher aquele vazio que nunca entendeu com algo palpável, do qual pudesse ver e atribuir uma necessidade.
Na maior parte do tempo sentia vergonha de estar sempre repondo algo que não tinha acabado,  tentava entender o porque daquilo causar tanto pânico e tristeza, era incapaz de fazer qualquer ligação daquelas coisas banais com fatos de sua vida, não podia compreender sozinha que na verdade, pela metade estava o seu eu.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 13 de maio de 2018

Sobre as relações...



Um dia tudo estremece...

Estremece porque somos impar, na busca de ser mais que um...
Estremece porque não queremos deixar de ter algo em comum com nós mesmos, e não queremos aderir ao jeito do outro...
Estremece porque no meio desse bolo, nos perdemos e nos encontramos, enquanto nos confundimos...

Mas o estremecer proporciona tantas coisas, como a oportunidade de ressignificar sentimentos, e o nosso conceito sobre nós mesmos, o que mudaríamos afinal, se nada parecesse fora de ordem?
Estremece exatamente porque tem algo ali que precisa ser melhorado. 
Estremece sempre, antes de se consolidar...


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 6 de maio de 2018

Jeito de olhar


Olhos que enxergam o profundo...
Olhos que reparam em sutilezas e por vezes perdem o foco...
Olhos medrosos que temem sair do ritmo e de uma hora pra outra parar de se movimentar...
Olhos que enxergam longe, que permanecem  buscando aprimoramento, que mesmo quando desistem, terminam olhando em frente...
Olhos que analisam, que buscam respostas, que não se contentam...
Olhos que armazenam informação. Enxergam lá na frente, com a umidade do passado, a esperança do presente e o sonho no futuro...
Olhos que tudo vêem, que não deixam passar o primordial e que distribuem ternura...
São olhos curiosos, daqueles que buscam se surpreender, sempre abertos, buscando um caminho e sempre amáveis por onde passar.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 29 de abril de 2018

Ele tá passando...



O tempo é poderoso...
... ele tem a força para intensificar algo, ou a frieza para fazer com que algo morra.
O tempo no final das contas é detentor da maior parte dos sentimentos que nutrimos, e daqueles que por mais que tentemos cultivar acabam perdendo a força.
Nos faz o favor de mostrar que algumas sensações não vencem a distância e não possuem força para se nutrirem por si só.
O que fica forte e o que enfraquece não é necessariamente escolhido por nós, mas pela nossa necessidade de sobreviver e viver bem no lugar onde estamos.
E quem tem o que deseja sempre? Quem tem a vida que sempre sonhou?
O tempo sempre vai... 
... vai pra frente, mesmo que você carregue muita coisa passada...
E você pode até tentar manter algo do qual julga não viver sem, mas não se esqueça, ele tá passando, e mesmo sem querer acaba levando muita coisa.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 22 de abril de 2018

Lírica


... sentia uma vontade intensa de ser diferente, uma necessidade desesperadora de mudar seus pensamentos e de se enquadrar num funcionamento prático.
Reconhecia beleza nos poemas, mas detestava levar a vida de forma tão lírica, enquanto era surpreendida pela praticidade com que todos a levavam...
Observava, e via o quanto era simples, despojado e sorridente o mundo dos que a rodeavam. Se olhava no espelho e era como se realmente pudesse se olhar por dentro. Via algo denso, complexo, mais parecido com olhares cerrados, do que com sorrisos estampados... Era música, era arte, era puramente poesia, era linda, mas com muita dificuldade em encontrar quem também a visse dessa forma.
Odiava. Odiava cada segundo que perdia achando que a pessoa ao lado reconhecia beleza onde ela via, ao mesmo tempo, amava. Amava cada pessoa com quem não se entendia, porque tinha sempre esperança de que a certa seria a próxima.
Era complexa, contraditória, e profunda....
Realmente como as poesias...
Que também não são pra todos os gostos e muitas vezes chegam a não agradar também o autor.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 15 de abril de 2018

Acaso?



... ao som de crianças brincando, e de carros passando, sentada ao ar livre, imaginando o propósito de todas as coisas, na realidade, se perguntando se algo realmente teria um propósito. E se não tiver? Qual seria o sentido de todo o resto?
Choveu no dia anterior e ela não pôde sair, do que a chuva a teria livrado? De que forma os acontecimentos a sua volta interferem na maneira como as coisas são? Seria muita arrogância pensar que tudo tem uma ligação com sua própria vida? E porque aquelas crianças sorriam pra ela como se soubessem que naquele dia os sorrisos que ela teria só viriam de outras pessoas? E aqueles carros barulhentos? Será que todos sabiam que o silêncio naquele dia a incomodaria demais?
Sei lá... Pode ser que seja só coisa de sua cabeça... E pode ser que seja só aquela mania de acreditar em Deus, ter fé e acreditar que mesmo nas pequenas coisas ele sabe exatamente do que ela precisa...


Andreia Ribeiro Lemos

domingo, 8 de abril de 2018

Meu próprio caminho



Tem muito o que se pensar, muito o que se falar e muito pra sentir. A sua necessidade de definir, rotular e fazer sentido, diz de você e não de mim. É que ainda tem muito o que descobrir e muito pra simbolizar. E de repente sua opinião não conta, a opinião de ninguém me interessa. Pouco importa se irão entender o que faço ou não.

A descoberta envolve mutação, diz sobre de repente você deixar de ser para ser, é matar algo, para que alguma coisa mais viva nasça no lugar, é transfigurar partes e torná-las muitas vezes o completo oposto do que eram. E então, quando encontramos em nós a disponibilidade à mudança, percebemos que somos apegados a uma infinidade de coisas por puro comodismo ou vaidade, por não querer passar uma imagem volúvel, esquecendo que crescer envolve as mudanças de ponto de vista ou a sua expansão.

E o medo? Aquele medo que dá quando se percebe que não está fazendo parte de nada. Pra onde eu vou? Em que lugar me encaixaria agora? E quanto mais você se difere, mais solitária fica a caminhada, e essa vai ser sempre a parte mais difícil... É essa dificuldade em encontrar quem queira percorrer o mesmo caminho, enxergando de forma semelhante.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 1 de abril de 2018

Poupando energia



Há de se consumir a esperança por quilometragem, gastando-a de forma discriminada. Tem semanas que a deixo conduzir meus sonhos, outras em que a economizo porque pressinto que precisarei usa-la mais tarde. Carrego esse otimismo junto ao cansaço. Combinação estranha. Por hora acredito na vida, por hora sei que nem adianta tentar. Se as oscilações são o que constituem o ser humano, ando me reconhecendo bem mais humana do que todos esses seres estáveis e equilibrados a minha volta.
É o cansaço de quem ainda não aprendeu a andar com as pernas novas, com as novas perspectivas...
Há semanas em que penso que tudo é possível, pra mim e para todos, e outras em que prefiro não encorajar ninguém a tentar o que não fui capaz de conseguir.
É uma conserva, o potinho onde guardo os resquícios de esperança, onde deposito o medo que tenho de acordar um dia e não ter mais esperança em nenhum aspecto da vida, de não saber mais olhar de forma positiva as situações... Então, mediante a todo cansaço, certifico-me de estar poupando um restinho de energia em algum lugar, mantendo sobretudo a esperança na própria esperança de que consigo mantê-la comigo durante toda a vida.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 25 de março de 2018

Visceral


... andava entre as árvores do parque e pensava em todas as sensações que lembrava ter sentido durante a vida, lembrava dos elogios que recebera na véspera, sobre o quanto a sua visão sobre o mundo era peculiar, era bonita, e pensava no quanto tudo isso era muito mais bonito pra quem apreciava e não para quem vivia de forma tão visceral.
Lembrava de tudo que a rasgou de dentro pra fora, da visão que conseguiu elaborar muito tempo depois dos acontecimentos e do quanto tudo aquilo passou bem perto de fazer com que ela perdesse a sanidade... Engolia os elogios a seco, e eles quase lhe soavam como ofensas, opiniões simplistas em relação a alguém com tanta carga... riu disso, e deixou-se sentar em baixo de uma das árvores, eram só as suas vísceras falando mais alto e se revirando de novo... Não dá pra ser diferente, pensava calmamente, aceite essa forma profunda de enxergar e sentir. Observou os pássaros que voavam de árvore em árvore e cantavam... Amanhã também irei voar para novos rumos, espero um dia poder ir assim, leve e cantando a todos os lugares.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 18 de março de 2018

Certo ou errado?


... é uma luta constante, na tentativa de manter algo vivo, algo que nem sabe se um dia nasceu. É um buraco que nada parece preencher, e que você deixa aberto porque fecha-lo sem nada dentro é pior do que deixar a ferida exposta.
E vai vivendo... Conhece novos lugares, novas pessoas, passa por uma série de experiências e algo, incrivelmente, ainda continua faltando. Ainda tem alguma coisa errada. 
O que é? Pra que serve? Por que quando não ta doendo, tá dormente?
E tudo muda... Você cresce... Por que ainda falta? Por que ainda parece que nada faz muito sentido?
Tem alguma coisa errada. Mas é com esse mundo que não te ensina a se bastar, mas a procurar nos pares algo pra te preencher. Esse mundo que não te ensina a viver plenamente sozinho, mas que te diz pra buscar alguém que te salve...
E você continua rodando, continua buscando outras coisas pra fazer, e encontra outras pessoas pelo caminho, mas agora parece haver algo de muito errado, ou muito certo com você que não te faz parar por qualquer um...
Ta errado? Ta certo?
Só prossegue... Só que agora sem lamentar o vazio, mas agradecendo pelo buraco que te faz estar sempre em frente, a procura do que um dia pode tampa-lo. 


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 11 de março de 2018

Inspirações


Alguém anotou a placa dessa pessoa que passou aqui e mudou uma porção de coisas? Dessa pessoa que parece só ter aparecido pra desenraizar meus pés e me dar vontade de viver? Alguém sabe pra qual lado ela foi pra eu poder agradecer pelo atropelamento?

É que tem gente que só aparece pra fazer com que reflitamos sobre a  vida e depois como num passe de mágica, como anjos que voltam pro céu, desaparecem...
E dá uma sensação tão boa quando lembramos do que foi agregado a nós, quando reconhecemos partes desses seres em nós, sem que eles tenham precisado ficar muito tempo pra somar.

Será que vocês sabem a importância que tem? Será que imaginam o poder de mudar vidas que possuem?
Lembro, continuo lembrando... Cada uma despertou um lado profundo meu, cada uma me fez repensar e aceitar partes minhas e cada reflexão bem feita era um sinal de que nunca mais nos veríamos...

Você acredita em anjos? Eu acredito em anjos na terra, aqueles que cumprem sua missão ao nosso lado e se vão conforme a missão chega ao fim...
Alguém anotou a placa?
Quero agradecer por ter me feito ir em frente, mesmo com os todos os hematomas.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 4 de março de 2018

Hã?



É meu, não é meu...
Se o que tiver que ser será, eu faço alguma coisa?
Seja desapegado, mas não deixe de se apaixonar...
Não se apaixone, mas não seja tão desapegado assim...
Quantas mensagens somos capazes de captar ao mesmo tempo?
Em quantos caminhos abrimos portas, sem que queiramos realmente seguir neles?
Não sei o que quero, mas sei pra onde ir...
Não sei pra onde ir, mas sei o que quero...
Ahhhh, e que droga isso de nem tudo depender da gente!
Que grande merda isso de não saber se algo vale a pena, ou se vai ser uma baita perda de tempo...
Tô deixando os sinais de que devo desistir passarem? 
Será que não é medo?
Já sei diferenciar medo de intuição? Como posso saber?
É tudo tão confuso... Esse tal de crescimento envolve tanta coisa...
Tem dias que tudo é certeza, tem outros que não sabemos a direção de nenhum passo a dar...
E que vontade que dá de fazer uma pausa, de não levantar da cama só pra pensar no que poderia ser feito...
Vontade de formular novos planos, de ter tempo de colocar tudo no lugar antes de continuar...
E que vontade que dá de fingir que nada tá acontecendo e seguir, do jeito que sempre foi, acreditando que os velhos planos ainda estão com tudo...

A arte de saber que na realidade não sabemos de nada, e que na maior parte do tempo teremos pensamentos que não farão muito sentido...
Continuamos com a crença de que podemos não enxergar grandes ganhos no agora, mas que lá na frente seremos capazes, assim esperamos, de entender... Confiantes de que nessa vida nada é em vão.


Andréia Ribeiro Lemos

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Um relato de ansiedade


Penso que é meu fim...
Não que vou morrer, mas que não tenho saída, não tenho como viver...
Não penso que algo muito ruim irá me acontecer, penso que nada de bom virá...
Penso que muitas vezes me prejudico sozinho, que eu mesmo busco formas de me sentir mal...
Nada aconteceu. Nada de ruim me atingiu, não houve perdas, nem danos, mas a sensação é a de que nada mais tem conserto...
É uma vida inteira, muita coisa em jogo. Minha visão sobre a pessoa que sou, a pressão sobre a pessoa que preciso me tornar e a lucidez que preciso adquirir...
Estou bem! Claro que estou! 
Não estou bem! E como poderia?!
Tudo vai bem na mesma proporção em que não vai...
Olho pra frente e tudo parece estar em ordem...
Olho pra dentro e tudo parece não ter mais solução...
Uma coisa de cada vez, repito a mim mesmo... Mas por onde começar?
Eu vou conseguir!
Eu vou conseguir?
Enquanto isso tudo permanece estático...
Não consigo me mover.

Um terapeuta pode ajudar.
Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Solitude



Ela acordou, fez o café, se serviu de uma xícara bem grande e sentou perto da janela pra observar o vento mexer nas folhas das árvores. Não precisava olhar pro lado, nem procurar por ninguém, muito menos pegar o celular cheio de mensagens vazias, pra saber que nada importava, a muito tempo já vinha sozinha. 
Olhava as árvores, tomava café e pensava com leveza sobre todas as intempéries que passou. Um grande "ufa!" ecoou em sua cabeça. "Que bom que estou só". 
Pensou na ajuda que lhe foi negada, nas trapalhadas de quem fingia ajudar pra satisfazer o próprio ego e no quanto só conseguia sentir amor por todas aquelas pessoas. É que se não fosse por elas não teria aprendido que embora adorasse andar acompanhada sabia muito bem andar sozinha. Não teria aprendido que sua fisionomia doce passava longe, bem longe de ser frágil como supunha. Tomou outro gole de café, deu um sorriso e desejou felicidade pra todas aquelas pessoas que sem querer fizeram com que ela se sentisse mais feliz com ela mesma.
E como é doce o gosto do café quando está acompanhado por uma alma serena.


Andreia Ribeiro Lemos

domingo, 18 de fevereiro de 2018

É bonito, muito bonito... De longe!


É bonito, muito bonito... De longe.
É tentador, interessante, chamativo, reluzente, extasiante e brilhante.
Da vontade de estar perto, fazer parte, se envolver nos planos e desenvolver meios de permanecer.
Tem um quê de verão, é convidativo, acolhedor, enérgico e espontâneo.
É extrovertido, sorridente e estranhamente familiar. Penetra suas defesas e te faz duvidar da forma como vinha vivendo até ali...

Mas de perto o sorriso não é tão luminoso, na verdade é amarelado e com presas enormes. Os olhos não brilham de forma convidativa, olhando bem de perto, chegam a dar medo, e o que você achou que fosse verão na realidade era brasa.
Não é familiar porque possui afinidade, é familiar porque aprendeu a se fazer familiar a qualquer um. Não destruiu suas defesas pra te conhecer, as desfez pra usufruir da sua guarda baixa. Te mostrou uma vida diferente, mas não se engane, você só fará parte se aceitar uma porção de coisas que a maioria das pessoas não aceitaria, além de precisar lutar e correr pra conseguir um horário vago na sua agenda. 

A extroversão e a  habilidade de fazer piada com tudo conquistou uma porção de admiradores e o tornou popular, o que te faz duvidar ainda mais de sua percepção...
É que é realmente bonito, muito bonito de longe... Mas de perto, muito prazer, te apresento um manipulador egoísta.


Andreia Ribeiro Lemos

domingo, 11 de fevereiro de 2018

É diferente...


É diferente eu sei...
Não dá mais pra reconhecer verdade nos lugares de antes, mas também não dá pra dizer que tudo seja uma grande mentira.
É tudo bem diferente no final das contas. Tudo fora do contexto que aprendemos. E tudo com tantos lados e tantas perspectivas que os sentidos de certo ou errado começam a dar um nó na nossa cabeça. 
É tudo bem diferente...
Cada um no seu ritmo, cada um no seu tempo, cada um no seu caminho...
É diferente, as coisas não são como pensávamos. São melhores e ao mesmo tempo mais doídas.
Cada dia algo diferente nos afeta, e  a cada dia aprendemos a lidar melhor com isso...
E é diferente de tudo que te disseram, mas tudo bem.
No final das contas até nós somos diferentes do que esperávamos ser.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Corpo



O corpo nos conta uma história. A história sobre tudo que vivemos. Carrega as marcas de coisas que não somos capazes de entender, das que entendemos e das que só muito depois iremos compreender. Está ali, através do brilho dos olhos, da curvatura dos sorrisos, das lágrimas, do toque. Se expressa através das manchas, das rugas, das doenças, das cicatrizes e de todas aquelas marcas que na maioria das vezes não gostamos.

Esse poderoso lugar onde moramos, funciona como um aliado que vai sempre nos contar quando algo estiver errado. Nele temos impresso os lugares por onde passamos, o lugar onde estamos e onde queremos ir. Carrega os traumas e as alegrias dos caminhos que percorremos, diz de toda uma vida vivida e do que escolhemos rejeitar. Conta sobre cada amor, cada decepção, cada noite de insônia, cada emoção... E tudo o que marca por dentro, de alguma forma marca fora.

Passamos tanto tempo olhando nossos defeitos e tudo aquilo que não gostamos em nossa aparência, sem nos dar conta de que cada marca é como um mapa que te localiza dentro de sua própria história, que sem ela talvez não nos lembraríamos  onde estivemos e tudo o que precisamos passar. As cicatrizes vão contando a história do modo como sobrevivemos a vida, nos lembrando de cada situação que nos modificou e nos transformou em seres mais fortes....

E podemos até optar por nos livrarmos de todas elas, desde que não esqueçamos os motivos delas um dia precisarem estar ali.


Andréia Ribeiro Lemos

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Quando o sentimento não acompanha...


Na cabeça ta tudo ok! Tudo perfeitamente organizado. Os pensamentos sabem exatamente o que fazer, sabem os passos a seguir... O peito bagunça tudo. Acelera quando não deveria, sinaliza para o estômago agir a seu favor e faz a mente perder o foco. Temos então a difícil missão de tentar conciliar esses dois, que de tão diferentes parecem nem fazer parte do mesmo organismo.

Um vai tentando convencer o outro, nenhum dá o braço a torcer, enquanto você está ali, enquanto você é um, é outro, e é os dois. Você pára! Tenta colocar tudo em ordem, tenta chegar a um consenso, tenta não ser só um, tenta não se entregar a um lado só, e tenta se integrar de alguma forma.

E o tempo passa... O mundo continua girando...

Tudo a sua volta continua acontecendo, enquanto sua batalha interna faz com que você se sinta paralisado e disfuncional.  Dá pra continuar vivendo em meio a tudo isso? E você se questiona sem perceber que a vida não parou e que assim como as outras pessoas você continua fazendo o que sempre fez.

Você acha que não, mas ta todo mundo enfrentando os seus próprios monstros internos, e você pode até achar que todos estão vendo o que se passa com você, mas assim como as outras pessoas não lhes são transparente, você também não é. E se todos estão vivendo do jeito que podem e lutando suas próprias lutas, a única coisa que posso desejar é que de alguma forma todos consigamos vencer.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 28 de janeiro de 2018

Depoimento de um covarde


É que não posso correr o risco de ser o preterido, por isso não me oporei caso você se torne. É preferível dar cordas para que quem sofre se enforque, é preferível rir de quem busca meios de provar sua integridade, deixar que os fatos corram sem intromissão mesmo sabendo de toda a verdade, mas veja bem, eu só prefiro não tomar partido.

É preferível o corte, a ignorância, as ações contrarias a qualquer ato em que eu tenha que me envolver, as minhas energias serão gastas na indiferença forçada e no meu correr pro lado oposto. Não levarei em conta nada do que tenhamos vivido, pois bem provável, te ajudar me colocaria numa situação difícil, mas veja bem, eu só prefiro não tomar partido.

O seu sofrimento vou fingir que não vi, os apelos fingirei que não ouvi e se me perguntarem direi que nada tenho em relação a essa historia, mas veja bem... Você já sabe o que quero dizer...

Espero que você me prove superioridade em decorrência de minha covardia, afinal, de você eu espero que entenda o meu lado, mesmo que no seu lugar eu nunca tenha me colocado. Sei que como a boa pessoa que você é, me aceitará, e que poderei contar com você sempre que precisar, mas qualquer coisa, lembre-se, posso até saber de tudo, mas prefiro não me envolver...


Andréia Ribeiro Lemos