domingo, 29 de abril de 2018

Ele tá passando...



O tempo é poderoso...
... ele tem a força para intensificar algo, ou a frieza para fazer com que algo morra.
O tempo no final das contas é detentor da maior parte dos sentimentos que nutrimos, e daqueles que por mais que tentemos cultivar acabam perdendo a força.
Nos faz o favor de mostrar que algumas sensações não vencem a distância e não possuem força para se nutrirem por si só.
O que fica forte e o que enfraquece não é necessariamente escolhido por nós, mas pela nossa necessidade de sobreviver e viver bem no lugar onde estamos.
E quem tem o que deseja sempre? Quem tem a vida que sempre sonhou?
O tempo sempre vai... 
... vai pra frente, mesmo que você carregue muita coisa passada...
E você pode até tentar manter algo do qual julga não viver sem, mas não se esqueça, ele tá passando, e mesmo sem querer acaba levando muita coisa.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 22 de abril de 2018

Lírica


... sentia uma vontade intensa de ser diferente, uma necessidade desesperadora de mudar seus pensamentos e de se enquadrar num funcionamento prático.
Reconhecia beleza nos poemas, mas detestava levar a vida de forma tão lírica, enquanto era surpreendida pela praticidade com que todos a levavam...
Observava, e via o quanto era simples, despojado e sorridente o mundo dos que a rodeavam. Se olhava no espelho e era como se realmente pudesse se olhar por dentro. Via algo denso, complexo, mais parecido com olhares cerrados, do que com sorrisos estampados... Era música, era arte, era puramente poesia, era linda, mas com muita dificuldade em encontrar quem também a visse dessa forma.
Odiava. Odiava cada segundo que perdia achando que a pessoa ao lado reconhecia beleza onde ela via, ao mesmo tempo, amava. Amava cada pessoa com quem não se entendia, porque tinha sempre esperança de que a certa seria a próxima.
Era complexa, contraditória, e profunda....
Realmente como as poesias...
Que também não são pra todos os gostos e muitas vezes chegam a não agradar também o autor.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 15 de abril de 2018

Acaso?



... ao som de crianças brincando, e de carros passando, sentada ao ar livre, imaginando o propósito de todas as coisas, na realidade, se perguntando se algo realmente teria um propósito. E se não tiver? Qual seria o sentido de todo o resto?
Choveu no dia anterior e ela não pôde sair, do que a chuva a teria livrado? De que forma os acontecimentos a sua volta interferem na maneira como as coisas são? Seria muita arrogância pensar que tudo tem uma ligação com sua própria vida? E porque aquelas crianças sorriam pra ela como se soubessem que naquele dia os sorrisos que ela teria só viriam de outras pessoas? E aqueles carros barulhentos? Será que todos sabiam que o silêncio naquele dia a incomodaria demais?
Sei lá... Pode ser que seja só coisa de sua cabeça... E pode ser que seja só aquela mania de acreditar em Deus, ter fé e acreditar que mesmo nas pequenas coisas ele sabe exatamente do que ela precisa...


Andreia Ribeiro Lemos

domingo, 8 de abril de 2018

Meu próprio caminho



Tem muito o que se pensar, muito o que se falar e muito pra sentir. A sua necessidade de definir, rotular e fazer sentido, diz de você e não de mim. É que ainda tem muito o que descobrir e muito pra simbolizar. E de repente sua opinião não conta, a opinião de ninguém me interessa. Pouco importa se irão entender o que faço ou não.

A descoberta envolve mutação, diz sobre de repente você deixar de ser para ser, é matar algo, para que alguma coisa mais viva nasça no lugar, é transfigurar partes e torná-las muitas vezes o completo oposto do que eram. E então, quando encontramos em nós a disponibilidade à mudança, percebemos que somos apegados a uma infinidade de coisas por puro comodismo ou vaidade, por não querer passar uma imagem volúvel, esquecendo que crescer envolve as mudanças de ponto de vista ou a sua expansão.

E o medo? Aquele medo que dá quando se percebe que não está fazendo parte de nada. Pra onde eu vou? Em que lugar me encaixaria agora? E quanto mais você se difere, mais solitária fica a caminhada, e essa vai ser sempre a parte mais difícil... É essa dificuldade em encontrar quem queira percorrer o mesmo caminho, enxergando de forma semelhante.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 1 de abril de 2018

Poupando energia



Há de se consumir a esperança por quilometragem, gastando-a de forma discriminada. Tem semanas que a deixo conduzir meus sonhos, outras em que a economizo porque pressinto que precisarei usa-la mais tarde. Carrego esse otimismo junto ao cansaço. Combinação estranha. Por hora acredito na vida, por hora sei que nem adianta tentar. Se as oscilações são o que constituem o ser humano, ando me reconhecendo bem mais humana do que todos esses seres estáveis e equilibrados a minha volta.
É o cansaço de quem ainda não aprendeu a andar com as pernas novas, com as novas perspectivas...
Há semanas em que penso que tudo é possível, pra mim e para todos, e outras em que prefiro não encorajar ninguém a tentar o que não fui capaz de conseguir.
É uma conserva, o potinho onde guardo os resquícios de esperança, onde deposito o medo que tenho de acordar um dia e não ter mais esperança em nenhum aspecto da vida, de não saber mais olhar de forma positiva as situações... Então, mediante a todo cansaço, certifico-me de estar poupando um restinho de energia em algum lugar, mantendo sobretudo a esperança na própria esperança de que consigo mantê-la comigo durante toda a vida.


Andréia Ribeiro Lemos