quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Quando o sentimento não acompanha...


Na cabeça ta tudo ok! Tudo perfeitamente organizado. Os pensamentos sabem exatamente o que fazer, sabem os passos a seguir... O peito bagunça tudo. Acelera quando não deveria, sinaliza para o estômago agir a seu favor e faz a mente perder o foco. Temos então a difícil missão de tentar conciliar esses dois, que de tão diferentes parecem nem fazer parte do mesmo organismo.

Um vai tentando convencer o outro, nenhum dá o braço a torcer, enquanto você está ali, enquanto você é um, é outro, e é os dois. Você pára! Tenta colocar tudo em ordem, tenta chegar a um consenso, tenta não ser só um, tenta não se entregar a um lado só, e tenta se integrar de alguma forma.

E o tempo passa... O mundo continua girando...

Tudo a sua volta continua acontecendo, enquanto sua batalha interna faz com que você se sinta paralisado e disfuncional.  Dá pra continuar vivendo em meio a tudo isso? E você se questiona sem perceber que a vida não parou e que assim como as outras pessoas você continua fazendo o que sempre fez.

Você acha que não, mas ta todo mundo enfrentando os seus próprios monstros internos, e você pode até achar que todos estão vendo o que se passa com você, mas assim como as outras pessoas não lhes são transparente, você também não é. E se todos estão vivendo do jeito que podem e lutando suas próprias lutas, a única coisa que posso desejar é que de alguma forma todos consigamos vencer.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 28 de janeiro de 2018

Depoimento de um covarde


É que não posso correr o risco de ser o preterido, por isso não me oporei caso você se torne. É preferível dar cordas para que quem sofre se enforque, é preferível rir de quem busca meios de provar sua integridade, deixar que os fatos corram sem intromissão mesmo sabendo de toda a verdade, mas veja bem, eu só prefiro não tomar partido.

É preferível o corte, a ignorância, as ações contrarias a qualquer ato em que eu tenha que me envolver, as minhas energias serão gastas na indiferença forçada e no meu correr pro lado oposto. Não levarei em conta nada do que tenhamos vivido, pois bem provável, te ajudar me colocaria numa situação difícil, mas veja bem, eu só prefiro não tomar partido.

O seu sofrimento vou fingir que não vi, os apelos fingirei que não ouvi e se me perguntarem direi que nada tenho em relação a essa historia, mas veja bem... Você já sabe o que quero dizer...

Espero que você me prove superioridade em decorrência de minha covardia, afinal, de você eu espero que entenda o meu lado, mesmo que no seu lugar eu nunca tenha me colocado. Sei que como a boa pessoa que você é, me aceitará, e que poderei contar com você sempre que precisar, mas qualquer coisa, lembre-se, posso até saber de tudo, mas prefiro não me envolver...


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 21 de janeiro de 2018

Não dá pra controlar



... então você pára pra pensar no quanto tudo é frágil, no quanto realmente nunca saberemos o que pode acontecer. Você não entende como dias perfeitos de uma hora para a outra podem se tornar um dos piores de sua vida e como dias ruins são modificados apenas por uma notícia, que te faz esquecer o que o havia feito ruim até ali. E nada parece ter muita coerência.

Você busca explicações que justifiquem os acontecimentos, alguma coisa que faça sentido, que seja capaz de te acalmar, e quando não encontra não consegue simplesmente aceitar que as vezes não encontraremos motivo do porque algo aconteceu. É que cultivamos essa vontade, essa necessidade de sempre precisar saber porque as coisas acontecem...

E como vamos simbolizar e aprender a conviver com algo que não entendemos, quando o que aprendemos durante toda a vida foi a procurar explicações? E você continua sem entender muito bem o porquê de continuar, se embaralha e se esforça na mesma proporção. Mas nada te faz abandonar suas crenças, nem mesmo as que te fazem mal... Já parou pra pensar nisso? Alguém disse que para aprender é sempre necessário desaprender, concordo totalmente, nem tudo é preciso que seja levado adiante, nem os pensamentos que sempre julgamos estarem corretos.


Andréia Ribeiro Lemos

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Estranhamento



... lá estava ela, sentada ao lado de um jardim, com um livro em mãos, tomando um suco de abacaxi, enquanto ao invés de ler, pensava nos últimos acontecimentos...
Vários foram os contatos e situações imaginárias, mas nada aconteceu como ambos os lados queriam. Assim presumia... O contato inicial foi uma bela batida! Dois mundos completamente diferentes. Duas galáxias que não se localizam nada perto uma da outra. Pegue duas pessoas que cresceram tendo experiências completamente opostas, solte- as para que elas iniciem um contato e observe. Como se o gênero diferente já não fosse o bastante para um estranhamento de expectativas. Quando um vai o outro recua por não entender as intenções, quando o outro entende, aquele que foi retorna por não compreender a demora. Estranho continuar tentando enquanto tudo indica que o melhor mesmo é parar, é que já tinha um tempo em que ela havia entendido que o medo e a intuição às vezes se confundem. Se de alguma forma as pouquíssimas semelhanças vão falar mais alto? Se é que elas realmente existem... Quem é que tem garantia de alguma coisa? A única certeza que se pode ter é que o contato com o diferente expande, e se nada acontecer, algo já estava modificado la dentro...
... o livro não parecia contar a mesma história, e o suco tinha o gosto forte, cítrico, daqueles que a gente demora até decidir se está gostando ou não.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 14 de janeiro de 2018

Cativar


Interesso-me pelo o que se interessa...
Interessante é quem partilha, demonstra, acolhe...
Interesso-me pela sutileza, pelo semblante, pela vontade de fazer dar certo...

Mantenho-me interessado pela parte que me toca, pelas brincadeiras e "irritâncias", por tudo o que não faz sentido...
Interesso-me pelas frases atravessadas, pelos olhares desencontrados, pelas conversas sem nexo, por tudo o que está errado, enquanto só o que se pensa é que dá pra concertar...

Interesso-me pelo acaso e pelo quanto posso mudá-lo e escolher a meu modo...
Fico ou vou embora?
Faço isso tantas vezes por dia, sem que ninguém saiba, emendando pensamentos desproporcionais a situações que nem tenho certeza de ter entendido direito...
E quem entende dessa arte de cativar e de manter alguém interessado?

Interesso-me sobretudo pelas minhas sensações, brigo, amo e desisto sem sair do lugar...
Hoje estou partindo, mas amanhã pode ser que eu volte, e ninguém nem vai perceber.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 7 de janeiro de 2018

Demonstrar


É que a reação do outro se faz mais importante em nossas fantasias...
Pensamos em não nos expor, não demonstrar qualquer que seja o sentimento a alguém, porque estamos tão concentrados na resposta do outro que não reconhecemos a importância que a demonstração tem para nós.

Vulneravelmente exposto, a falta de empatia a que estamos sujeitos vai machucar. A rejeição vai machucar. Perceber que o que você vem carregando, nutrindo, e que te gera ansiedade e todo tipo de sentimento, não tem aceitação, não é reciproco e não faz diferença para o outro, agride instantaneamente o ego.

É que o que encaramos como o pior tipo de rejeição, é na verdade uma limitação, e na maioria das vezes, uma limitação do outro. Numa relação ambos estarão sempre expostos, o que você coloca diante do outro é seu, a resposta que vem a partir do seu movimento, é dele. E você vai entrar em contato com sentimentos de rejeição, inadequação e qualquer outro tipo de sentimento que o faça sofrer diante de um "não", mas a verdade é que a medida que nos colocamos diante do outro, também o temos tão exposto e vulnerável quanto nós.

Entramos em contato com a quebra das ilusões, com a quebra das idealizações ou nos surpreendemos de forma positiva. Reconhecemos a partir disso, angustias que talvez não reconheceríamos em nenhuma outra ocasião e aprendemos que o outro está exposto sim, mas a sua maneira e com o que tem para oferecer. Expressar é crescer. É moldar os próprios comportamentos, é entender sobre limitações e aprender a aceitar o outro tal como é.


Andréia Ribeiro Lemos