quarta-feira, 26 de abril de 2017

Marcante



Uma presença marcante tatua
Uma, duas vezes em que foi vista
Meses ou anos de convivência
Fixa

Uma presença marcante ainda que falante ou contida
É notada
É sentida
Irrita

Uma presença marcante é intrigante
Gera amor
Gera ódio
Ao mesmo tempo e na mesma medida

Uma presença marcante desnorteia
Curiosidade em quem fica
Curiosidade em quem parte
Curiosidade em quem nem chegou a entrar no seu mundo

Uma presença marcante faz permanência na imprevisibilidade
Só fica quem tem coragem
Só arrisca quem está inteiro
Só entra em contato quem sabe lidar


Andréia Ribeiro Lemos

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Noite


Noite passada dormi bem
Não pensei no que poderia ter dado certo
Não pensei em nada que poderia ter sido diferente

Noite passada, sonhei
Não tive o apagão que os sonos pesados acarretam
Não acordei com a sensação de que a noite tivesse passado em branco

Noite passada não dei cordas aos pensamentos ruins
Não desestimulei os sonhos
Não senti estar vivendo uma ilusão

Noite passada, agradeci
Me virei, e quentinha pensei que tudo ficaria bem
Me enrolei, fiz uma prece, sonhei com figuras de luz e acordei otimista

Na noite passada, envelheci
Me vi diante de uma imagem que não está mais disposta a sofrer sem motivos
Agradeci pelo presente e fiz planos

Ao acordar da noite passada não tive medo
Abracei o futuro
Aprendi o que é esperança e me senti com leveza.



Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 4 de abril de 2017

Devaneios



Transparência escondida. Intensidade contida.
De perto da pra ver e desvendar todos os mistérios que a sua mente inventa, de perto da pra notar palpitações sob um corpo imóvel.
Por todos os lugares que passou deixou saudades, e em contrapartida não sentiu falta de quase ninguém. Deixou ensinamentos, risadas e muito amor. Saiu com a sensação de estar sendo roubada, sugada... usada.
Continuou e continua a procura de pessoas que não a drenem, pessoas capazes de dividir e criar momentos e não de boicota-los, rouba-los para si.
Estranho pensar que ficou para traz para que pudesse passar a frente, ou que encara o retardo como fonte de progresso, mas a sensação é bem essa... Por onde passa deixa um rastro brilhante, e mesmo em tempos difíceis, ou principalmente neles, é capaz de criar de se manter, erguer e evoluir.
De todos os medos cultivados, o que mais teme é que um dia deixe de ser humana, que se enquadre e passe a viver mecanicamente. Viu que a forma que escolheu viver a faria sofrer e abrir mão de muitas coisas, mas também viu que cresceria para além delas.
Se o sofrimento faz crescer? Depende. Progredir, na minha opinião, vai ser sempre uma questão de escolha.


Andréia Ribeiro Lemos