domingo, 25 de março de 2018

Visceral


... andava entre as árvores do parque e pensava em todas as sensações que lembrava ter sentido durante a vida, lembrava dos elogios que recebera na véspera, sobre o quanto a sua visão sobre o mundo era peculiar, era bonita, e pensava no quanto tudo isso era muito mais bonito pra quem apreciava e não para quem vivia de forma tão visceral.
Lembrava de tudo que a rasgou de dentro pra fora, da visão que conseguiu elaborar muito tempo depois dos acontecimentos e do quanto tudo aquilo passou bem perto de fazer com que ela perdesse a sanidade... Engolia os elogios a seco, e eles quase lhe soavam como ofensas, opiniões simplistas em relação a alguém com tanta carga... riu disso, e deixou-se sentar em baixo de uma das árvores, eram só as suas vísceras falando mais alto e se revirando de novo... Não dá pra ser diferente, pensava calmamente, aceite essa forma profunda de enxergar e sentir. Observou os pássaros que voavam de árvore em árvore e cantavam... Amanhã também irei voar para novos rumos, espero um dia poder ir assim, leve e cantando a todos os lugares.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 18 de março de 2018

Certo ou errado?


... é uma luta constante, na tentativa de manter algo vivo, algo que nem sabe se um dia nasceu. É um buraco que nada parece preencher, e que você deixa aberto porque fecha-lo sem nada dentro é pior do que deixar a ferida exposta.
E vai vivendo... Conhece novos lugares, novas pessoas, passa por uma série de experiências e algo, incrivelmente, ainda continua faltando. Ainda tem alguma coisa errada. 
O que é? Pra que serve? Por que quando não ta doendo, tá dormente?
E tudo muda... Você cresce... Por que ainda falta? Por que ainda parece que nada faz muito sentido?
Tem alguma coisa errada. Mas é com esse mundo que não te ensina a se bastar, mas a procurar nos pares algo pra te preencher. Esse mundo que não te ensina a viver plenamente sozinho, mas que te diz pra buscar alguém que te salve...
E você continua rodando, continua buscando outras coisas pra fazer, e encontra outras pessoas pelo caminho, mas agora parece haver algo de muito errado, ou muito certo com você que não te faz parar por qualquer um...
Ta errado? Ta certo?
Só prossegue... Só que agora sem lamentar o vazio, mas agradecendo pelo buraco que te faz estar sempre em frente, a procura do que um dia pode tampa-lo. 


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 11 de março de 2018

Inspirações


Alguém anotou a placa dessa pessoa que passou aqui e mudou uma porção de coisas? Dessa pessoa que parece só ter aparecido pra desenraizar meus pés e me dar vontade de viver? Alguém sabe pra qual lado ela foi pra eu poder agradecer pelo atropelamento?

É que tem gente que só aparece pra fazer com que reflitamos sobre a  vida e depois como num passe de mágica, como anjos que voltam pro céu, desaparecem...
E dá uma sensação tão boa quando lembramos do que foi agregado a nós, quando reconhecemos partes desses seres em nós, sem que eles tenham precisado ficar muito tempo pra somar.

Será que vocês sabem a importância que tem? Será que imaginam o poder de mudar vidas que possuem?
Lembro, continuo lembrando... Cada uma despertou um lado profundo meu, cada uma me fez repensar e aceitar partes minhas e cada reflexão bem feita era um sinal de que nunca mais nos veríamos...

Você acredita em anjos? Eu acredito em anjos na terra, aqueles que cumprem sua missão ao nosso lado e se vão conforme a missão chega ao fim...
Alguém anotou a placa?
Quero agradecer por ter me feito ir em frente, mesmo com os todos os hematomas.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 4 de março de 2018

Hã?



É meu, não é meu...
Se o que tiver que ser será, eu faço alguma coisa?
Seja desapegado, mas não deixe de se apaixonar...
Não se apaixone, mas não seja tão desapegado assim...
Quantas mensagens somos capazes de captar ao mesmo tempo?
Em quantos caminhos abrimos portas, sem que queiramos realmente seguir neles?
Não sei o que quero, mas sei pra onde ir...
Não sei pra onde ir, mas sei o que quero...
Ahhhh, e que droga isso de nem tudo depender da gente!
Que grande merda isso de não saber se algo vale a pena, ou se vai ser uma baita perda de tempo...
Tô deixando os sinais de que devo desistir passarem? 
Será que não é medo?
Já sei diferenciar medo de intuição? Como posso saber?
É tudo tão confuso... Esse tal de crescimento envolve tanta coisa...
Tem dias que tudo é certeza, tem outros que não sabemos a direção de nenhum passo a dar...
E que vontade que dá de fazer uma pausa, de não levantar da cama só pra pensar no que poderia ser feito...
Vontade de formular novos planos, de ter tempo de colocar tudo no lugar antes de continuar...
E que vontade que dá de fingir que nada tá acontecendo e seguir, do jeito que sempre foi, acreditando que os velhos planos ainda estão com tudo...

A arte de saber que na realidade não sabemos de nada, e que na maior parte do tempo teremos pensamentos que não farão muito sentido...
Continuamos com a crença de que podemos não enxergar grandes ganhos no agora, mas que lá na frente seremos capazes, assim esperamos, de entender... Confiantes de que nessa vida nada é em vão.


Andréia Ribeiro Lemos