Ela não entendia. O que
despertava essa vontade de errar? Porque ao lado dele sempre tinha vontade de
colocar tudo a perder, de agir como se fosse uma desequilibrada? Sempre foi
normal, no maior grau que essa palavra pode atingir. Nada de excepcional, nada
de tão ruim. O que aquela relação incitava? Porque possuía tanta vontade de
estragar tudo? Conviver com alguém admirado por todos a fazia querer chamar
atenção? Que palpite pobre! E quão patética se sentia ao pensar nisso... O que
é então?
Até que ponto somos capazes de
saciar a necessidade do outro sem saber? É certo que pra ser o bonzinho de
algum lugar alguém teria que fazer o papel do vilão. Quantas vezes paramos pra
pensar na atitude das pessoas em relação a nós? Quantas vezes paramos pra
refletir sobre o que fazemos para que elas reajam de alguma forma?
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Ele sempre teve medo de não ser
visto, cultivava uma necessidade de aprovação e uma carência lá no íntimo.
Adorava todos os elogios que dela vinham. Na maior parte do tempo estava sempre
disponível para fazer tudo o que ela lhe pedia, e na maioria das vezes não
recebia ao menos obrigado em troca, mas, nas raras vezes em que o elogio vinha
ele esquecia todas as reclamações e já estava pronto para fazer uma série de
coisas, certo de que em alguma delas seria reconhecido.
Alguém com dificuldade de cumprir suas funções e alguém que está disposto a fazer qualquer coisa
pra que a outra pessoa o veja. Os complementos da vida...
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Ele era sempre o cara que cuidava
e não precisava de ninguém. Estava disponível para todos a qualquer hora e
nunca pedia ajuda. Ela sempre exigiu mais cuidado do que cuidou, mas dele em
especial adoraria ter cuidado em alguma situação. Ele sempre estava lá
oferecendo ajuda enquanto sempre recusava qualquer tipo de ajuda oferecida da
parte dela. O forte e a frágil. Tudo complementarmente ótimo. Até que ela
decidiu que era capaz de sobreviver sem ajuda, mas não era capaz de ficar com
alguém que não a permitia participar de nenhuma forma.
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Passeando pela vida, me deparei
com essas questões...
Quantas lacunas colocamos o outro
para preencher? E como consideramos as pessoas que não estão dispostas a tapar
nossos buracos? Quantas vezes bloqueamos as pessoas sem saber? Quantas vezes
nossa autossuficiência exclui quem gostaria de fazer parte da nossa vida?
Quantas vezes colocamos o peso de nossas faltas em alguém? Quantas vezes
suprimos a necessidade do outro sem permitir que a pessoa aprenda a lidar com
suas próprias questões? Quantas combinações devem existir? Quantos aspectos não
conseguimos ver?
Somos encontros. Aprendemos com o
outro o que queremos, o que gostamos, do que somos capazes e por quais lugares
vamos transitar. Cada relação é única, mas a falta de reflexão em cada uma
delas e o não reconhecimento da sua parcela de culpa leva a uma série de
repetições. Cada um dos personagens das
situações acima são fortes candidatos a vivenciar o mesmo tipo de interação,
cada pessoa que existe também, a menos que aprenda a reconhecer o seu funcionamento
e se disponha a mudar.
Andréia Ribeiro Lemos