domingo, 26 de novembro de 2017

Sobre as feridas...



É que as feridas da alma são assim...
Nem sempre dá pra ver por fora, nem sempre notamos resquícios no comportamento, mas elas estão lá.
As aparências impecáveis, talvez carreguem a missão de camuflar algo obscuro que carrega dentro de si. O desleixo pode vir como forma de fazer com que todas as atenções negativas sejam voltadas para a sua aparência.

As dores vão sendo disfarçadas, desviadas para que outra coisa seja o foco.
Vão sendo camufladas porque pedir ajuda, admitir que algo está errado, é feio demais para um adulto. Devemos sempre dar conta de tudo, fomos treinados a reconhecer falhas e deficiências no outro, para não pensarmos nas nossas.

Apontamos o desequilíbrio alheio na esperança de que o nosso não fique tão evidente, rimos do desespero do outro enquanto carregamos a desesperança passo por passo.
Não posso deixar que saibam, não é bonito sentir essa angústia. Mas eu sei que o outro também sente, falarei dele então, pro holofote não se voltar para mim.

Vamos tentando camuflar nossos defeitos, enquanto dizemos que estamos tentando resolver...
E vamos atacando um ao outro, ao mesmo tempo em que reclamamos e pedimos por mais empatia. 


Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Projeção


Contaram-me que apontamos o dedo e mal dizemos aquilo que negamos em nós mesmos. Me contaram também, que todos aqueles pensamentos que rejeito e não quero que sejam expostos como sendo meus, eu atribuo a outra pessoa. Disseram que tudo aquilo que considero como uma ameaça a minha integridade eu tentaria destruir no outro. Avisaram-me que eu iria tentar cercear a liberdade de alguém porque de alguma forma não me sinto livre.

Esqueceram, por outro lado, de me avisar que também seria possível que eu enxergasse qualidades maiores do que o outro possui. Que as projeções pudessem ser tão encantadoras quanto más. Não me disseram que eu construiria heróis, príncipes encantados e amigos excepcionais que nunca existiram. Não me contaram que assim como desconheço minhas características negativas, posso também não saber sobre as boas.

Fui confundindo com idealização, sentindo que criava milhões de expectativas, porque não compreendi que o bom também é passível de ser projetado, que posso julgar mal o outro por algo que lá no fundo também carrego, mas, em contrapartida, posso enxerga-lo de uma forma linda, porque lá no fundo também pode ser o que habita o meu ser. 

Partes boas... Partes ruins... A questão é que tudo é decifrável pro indivíduo que se dispõe a compor e encaixar as suas partes. 

Ahhh o autoconhecimento... 
Fazer terapia é quase como aprender a viver com arte!

Andréia Ribeiro Lemos