sábado, 30 de dezembro de 2017

2017/2018


Um ano de esperas...

A maior das sensações foi a de uma grande inércia, sem se estar parado. Uma preparação pra frutos que não seriam colhidos no momento, uma plantação que os olhos ainda iriam demorar pra ver ao menos o broto...
Um preparo sem garantias.
Talvez o ano não tivesse sido tão pesado, se ao longo dos outros não tivesse guardado tanta coisa. O ano acompanhou o processo evolutivo pelo qual deveríamos passar, e pode até ter sido considerado ruim, mas não conheço quem não tenha crescido com ele.
O plano pro ano que virá é o de não retroceder. Cada passo, leve, pesado, arrastado ou flutuante, deve ter sua devida importância. Cada pequena melhora, cada mínima evolução deve ser comemorada e conservada.
O plano é prosseguir... Na esperança de que o próximo seja o ano da colheita.


Andréia Ribeiro Lemos

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Carta a minha terapeuta



É bem verdade que crescemos a partir dos momentos difíceis, mas não são eles os auxiliadores da evolução. Como recém formada, sei do quanto é importante no processo de um estudante de psicologia entrar em contato com o outro lado, não sendo um profissional, mas um paciente, um ser humano em busca de desenvolvimento.

Não foi nenhuma das vezes em que me disseram pra ter pressa, foi quando você disse que se fosse preciso esperaria comigo;
Não foram todas as vezes que me disseram que eu estava errada que fez com que minha opinião mudasse, foi quando você me pediu pra explicar melhor o meu ponto de vista;
Não foram nenhuma das exigências externas, foi o acolhimento interno que me lançou a frente;
Não foram nenhuma das turbulências, foi saber que tinha de onde tirar apoio;
Não foi quando me disseram que eu precisava ser forte, foi quando através de você eu entendi o significado da minha fraqueza;
Não foi quando colocaram em dúvida o meu jeito de ser, foi quando aprendi a me aceitar exatamente como sou, que então decidi por mim mesma o que mudar;

E podem dizer que os recursos eram meus, que os talentos eram meus e que tudo já estava aqui, mas quantas são as pessoas com talentos desperdiçados? Quantas são as pessoas com infinitas possibilidades que não aprendem formas de aproveitá-las? 
É de acolhida, sensações e afetos que se faz o processo, é de seriedade e amor ao próximo que se realiza um trabalho tão bonito.
É de reflexão em reflexão, de possibilidade em possibilidade, e de desestabilidades e planos desestruturados que cada um vive o seu mundo, e como aprender a viver e se fazer inteiro num mundo que te desfaz em pedaços? 
Mas é na aceitação que se encontra a mudança, é na acolhida a tudo que você é que se instala o crescimento, porque não é preciso mudar para ser aceito, mas dá vontade de ser melhor pra provar ser merecedor de um amor, que tão puramente te aceita assim, exatamente como você é. 


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 3 de dezembro de 2017

O que eu sei sobre o amor?


Sei que antes de ser já é...
Porque se ama pelo o que representa, pela diferença e por tudo o que só podemos sentir. Se ama principalmente pelo o que não entende, pelo respeito as escolhas do outro e pelo ridículo que nele habita. Se ama alguém por ser quem se é, amando muito mais quando se pode ser de um tudo ao seu lado.

Não é puramente do amor romântico a que me refiro, é ao amor genuíno, aquele que pode vir de qualquer lugar. Se ama quem respeita nosso tempo, nossas fases, nossos enganos e aqueles momentos em que não possuímos nenhuma virtude. 

Ser, deixar de ser, reinventar, voltar ao início, modificar tudo o que quiser e continuar confiando que ali habita um amor. E quantas são as pessoas que amam pelo simples prazer de amar? Por ser capaz de escolher um objeto de amor e respeita-lo a cada metamorfose, acreditando que todo movimento busca a evolução? Qual é o colo que está sempre disponível, mesmo que talvez, no momento você não o mereça tanto assim?

Se ama por amor, porque o amor vive dentro de alguém sem que necessariamente precisemos ser como desejam. Porque o amor aceita, alivia, contorna, transmuta e te faz aceitar o que de pior há em você. Se ama quando nada favorece, quando as vidas estão em lados opostos e quando nada faz o menor sentido, mas aquele bom dia ta sempre lá.

Porque o amor independe do quanto você pode dar em troca, porque nem sempre teremos pra doar, o melhor que se tem de alguém vai ser sempre o que de verdade ele te passa, a transparência de viver ao lado de imperfeições.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 26 de novembro de 2017

Sobre as feridas...



É que as feridas da alma são assim...
Nem sempre dá pra ver por fora, nem sempre notamos resquícios no comportamento, mas elas estão lá.
As aparências impecáveis, talvez carreguem a missão de camuflar algo obscuro que carrega dentro de si. O desleixo pode vir como forma de fazer com que todas as atenções negativas sejam voltadas para a sua aparência.

As dores vão sendo disfarçadas, desviadas para que outra coisa seja o foco.
Vão sendo camufladas porque pedir ajuda, admitir que algo está errado, é feio demais para um adulto. Devemos sempre dar conta de tudo, fomos treinados a reconhecer falhas e deficiências no outro, para não pensarmos nas nossas.

Apontamos o desequilíbrio alheio na esperança de que o nosso não fique tão evidente, rimos do desespero do outro enquanto carregamos a desesperança passo por passo.
Não posso deixar que saibam, não é bonito sentir essa angústia. Mas eu sei que o outro também sente, falarei dele então, pro holofote não se voltar para mim.

Vamos tentando camuflar nossos defeitos, enquanto dizemos que estamos tentando resolver...
E vamos atacando um ao outro, ao mesmo tempo em que reclamamos e pedimos por mais empatia. 


Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Projeção


Contaram-me que apontamos o dedo e mal dizemos aquilo que negamos em nós mesmos. Me contaram também, que todos aqueles pensamentos que rejeito e não quero que sejam expostos como sendo meus, eu atribuo a outra pessoa. Disseram que tudo aquilo que considero como uma ameaça a minha integridade eu tentaria destruir no outro. Avisaram-me que eu iria tentar cercear a liberdade de alguém porque de alguma forma não me sinto livre.

Esqueceram, por outro lado, de me avisar que também seria possível que eu enxergasse qualidades maiores do que o outro possui. Que as projeções pudessem ser tão encantadoras quanto más. Não me disseram que eu construiria heróis, príncipes encantados e amigos excepcionais que nunca existiram. Não me contaram que assim como desconheço minhas características negativas, posso também não saber sobre as boas.

Fui confundindo com idealização, sentindo que criava milhões de expectativas, porque não compreendi que o bom também é passível de ser projetado, que posso julgar mal o outro por algo que lá no fundo também carrego, mas, em contrapartida, posso enxerga-lo de uma forma linda, porque lá no fundo também pode ser o que habita o meu ser. 

Partes boas... Partes ruins... A questão é que tudo é decifrável pro indivíduo que se dispõe a compor e encaixar as suas partes. 

Ahhh o autoconhecimento... 
Fazer terapia é quase como aprender a viver com arte!

Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 22 de outubro de 2017

Depressão

(Uma de suas vertentes)



Funciona assim:
Você acorda e não vê motivos pra levantar;
Você sai da cama e não vê motivos para sair de casa;
Você sai e não vê motivos para realizar nenhuma de suas tarefas;
Você cumpre com as suas obrigações e não vê motivos para voltar pra casa;
Você volta e nada ao seu redor faz sentido... 
Então, você deita, e no dia seguinte não vê motivos para acordar...
Começa tudo de novo. Até que um dia você realmente não levanta.

Ausência de motivos e sentido. Prosseguir sem conseguir visualizar nada a sua frente, sem ter uma ponta de esperança e não acreditar em nenhum tipo de melhora ou futuro promissor. Já olhou pra sua vida e foi incapaz de enxergar vida?

A força que todos fazemos pra continuar enquanto vislumbramos um futuro, não é a mesma força de uma pessoa que continua por continuar, mas acorda e tenta encarar o dia. Se prende ao ciclo, a rotina, ao que se propõe a fazer, porque acredita precisar fazer e não mais que isso. Sem motivo, sem sentido, sem significado. Numa eterna espera de que algo te puxe pra vida.

Procure ajuda.
Um terapeuta pode te ajudar!

Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 8 de outubro de 2017

Términos?


Depende do ponto de vista. E depende mesmo. Os términos são tão ruins porque não vemos nada além deles. Não olhamos a caminhada, não vemos possibilidades futuras, estamos presos no fim. O fim nos absorve na sua falta de perspectiva, te aprisiona dentro de uma sala fechada onde você pode gritar o quanto quiser, onde mesmo se alguém ouvir, não irá te compreender.

Do fim não temos nada se não a falta de esperança, e a sensação de tempo perdido. Não é?
NÃO. 
Fechar ciclos é tão natural que não sabemos como fazê-lo. Começo, meio e fim. Somos familiarizados com os termos, mas não aceitamos vivê-lo. Carregamos relacionamentos falidos porque temos inconscientemente a ideia de que terminar é fracassar. Mesmo quando não há mais fonte de crescimento nessa forma de viver.

Temos o poder de reconhecer as sensações de cada encontro, relacionamento e acontecimentos, mas também temos o poder de ignorar o que sentimos. O fracasso está em não fazer o que se quer, em recusar o que já se sabe faz tempo, em mentir pra si mesmo. Aprende-se depois a mudar a forma de encarar o desfecho de uma história. Adquiri-se o dom de enxergar inícios. Ao avistar o fim torna-se capaz de ver além dele, reconhecer que depois algo sempre  começa e que se não for bom ou não der certo o fim existirá pra se possa fazer novos começos, de novo, de novo e de novo.

Não é uma vida feita de términos, é uma vida cheia de inícios, e tudo muda quando se muda a forma de olhar, entendendo que cada vez que você opta ou recebe um não, a vida te torna mais apta ao sim.

Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Os "replays" da vida



Então tudo de novo...
Mas tem algo diferente. O que seria? 
Não simbolizava, não entendia, não queria, não aceitava.
Tá diferente... O que?
A forma de encarar os problemas, o jeito de reagir as circunstancias, a forma como tudo te afeta. E porque tudo volta a se repetir? É tão igual de uma maneira tão diferente, e é tão complexamente simples que dá medo.
Precisamos dar a certeza de que realmente mudamos. Precisamos dar passo por passo, enquanto tudo se repete, esperando de nós mesmos novas atitudes, e que haja a confirmação de que depois disso virá algo melhor.
E não adianta se descabelar, se desesperar ou praguejar. Pode ser necessário perder o controle por vezes, mas nenhuma dessas coisas muda nada.
Como foi antes? Qual atitude tomou? Como posso fazer diferente? Se antes não deu certo o que posso mudar?
As energias vão se acumulando, já está sendo feito diferente, e então o que é?  É a confirmação. É o mundo esperando uma confirmação sua de que agora, mesmo com tudo acontecendo de forma tão semelhante, você irá mudar os resultados.

Andréia Ribeiro Lemos

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Circunstancial


É que a minha sinceridade nada tem em relação a falar tudo o que penso, mas com as ações e reações de cada encontro. Tem relação com os sentimentos e com a vontade de me manter perto ou longe. Tem a ver com as mãos, com os olhares e com a postura.

As palavras curam, as palavras ferem e em meio a verdades circunstanciais, nem tudo é relevante para ser dito, mas a proximidade e a distancia podem ser escolhidas. Falar quando se achar que deve, calar quando achar que for o momento, mas, agir de acordo com o que se sente, integrando ações equilibradas a pensamentos e emoções construídos e lapidados com o tempo e as experiências. Dar explicações quando achar necessário, a quem se importar e diferenciar a quem e como se reportar.

Da sinceridade que mais parece irmã gêmea da ignorância, pouco sei, mas do pouco que presenciei não a vi dando resultado satisfatório. A sensibilidade tem dessas coisas, não é o quanto alguém concorda ou discorda, é a validação que se tem que é levada em conta. E não existe outro meio se não as conversas para conhecer alguém, mas depois de algumas delas não é tão difícil descobrir qual postura tomar depois. 

Muitas das verdades de ontem não são mais as de hoje, nos enganamos e mudamos de ideia com frequência, e que bom que é assim. Preferencialmente para evitar uma porção de aborrecimentos e adoecimentos, nossas ações precisam estar alinhadas com as nossas verdades e dúvidas que de hora em hora vão mudar.


Andréia Ribeiro Lemos

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Que sentimento é esse?


Mãos dadas, pés atrás...
Caminhar com a sensação de leveza nos passos que por hora da até pra esquecer que um dia foram pesados...

Um misto de fé com a certeza de que só ela não é o bastante
Inquietude com calma
Selvageria no silêncio
Querer não querendo
Um mantra de contradição

Afinal, posso tudo ou nada?
Acreditar no futuro não deixando de lado a possibilidade de que os planos mudem...
Entender que a vida é imprevisível não deixando de acreditar que as vezes tudo pode acontecer como você sonhou...
Que sentimento é esse?

O sentimento de se permitir não estar no controle.

Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Velho/novo funcionamento


Na ida por um caminho incerto
Na volta a um caminho que se tem de cor
No medo do que não se conhece
No medo do antigo funcionamento, que já se sabe o que vai custar

Vai ser diferente?
Vai ser igual?

A dúvida te deixa imóvel, no meio, não estando em lugar nenhum
Na sensação de que muito ou nada se pode fazer
Com a certeza de que as consequências serão somente suas...

Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Desamparo



Não tem relação com o momento presente, mas com algo que foi desconstruído, que desmoronou muito antes.
Um chão que desabou repetidas vezes, um mundo que caiu na época em que deveria estar inteiro e acolhedor.
A procura por segurança, vem da sensação de não ter como se proteger, de prever desastres e de não conseguir avistar outros caminhos a se seguir.
O desamparo vem a muito tempo formando céticos. E quem pode culpar alguém por procurar formas de amparar o sentimento da criança que foi?
É que não importa a idade, o caos sempre vai se apresentar aquela antiga criança desamparada que pela sorte prosseguiu.
Alguns rastros são tão profundos que temos a complexa missão de conviver com eles pelo resto de nossas vidas, com o dever de sempre lembrar que a criança agora habita em um adulto.
É importante. é sempre importante dizer a si mesmo, que se muito antes ninguém acolheu o ser que necessitava de proteção, agora ele tem o poder de acolher a si mesmo.

Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Quando chorei...



Quando chorei tudo sumiu. Sempre se tem essa mania de achar que o choro é o auge do desespero, que está grudado no desequilíbrio. Mas, depois do choro consegui pensar...
Tudo estava embolado, trôpego, pesado. E então saiu...
Quando chorei não precisei fingir uma força que não tinha e nem me forçar a prosseguir. Simplesmente o fiz com naturalidade...
Porque depois do choro consegui rir das patifarias da vida. Envergonho-me das vezes que não permiti que meu corpo se expressa-se, que não entendi que ele precisa ser renovado repetidas vezes.
Mas agora aprendi... que primeiro vou chorar pra depois rir.

Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Caminhando com a ansiedade


Quando menos se espera vem a palpitação...
O coração acelerado, as mãos formigando e a cabeça a mil!
Se essa inquietação não colocasse peso nos passos, bem provável não apareceria metade das vezes...
Se andasse alinhada com o tempo de cura e com as reais necessidades, apareceria menos ainda...
O problema é que ela anda desacompanhada, e passa a frente de tudo, sem ponderar ou avistar as possibilidades.
Vai empurrando seu corpo para traz enquanto arremessa sua mente para frente.
Vive do “desviver”.
Não permite a ação, porque muito antes, provável que já tenha dado errado...
Se a ansiedade fosse trabalhada também ela poderia ser usada a seu favor, como todas as outras coisas, mas, também como todas as outras, quase sempre para aprender a usar em seu benefício é preciso tê-la sentido na sua pior versão.
É preciso aceitar sua pausa desconcertante...
Apreciar sua visita penetra...
E não tentar expulsa-la a todo custo, sem antes entendê-la...
Só se digere bem o que foi mastigado repetidas vezes...
Só dá pra se livrar daquilo que se esgotou e se transformou dentro de nós.


Andréia Ribeiro Lemos 

terça-feira, 11 de julho de 2017

Eu no outro


Pensa bem no que vai falar sobre mim, pois sou o seu reflexo. A beleza que vê em mim, na verdade está em você. Os incômodos e mau olhares que gero, na verdade não são meus. Tudo o que está vendo, tudo o que te faço sentir, bem provável não tenha nenhuma ligação com a pessoa que sou, mas sim com as suas qualidades e limitações. O outro é um reflexo, o que vemos é nosso, o que sentimos é nosso. No outro descubro minha beleza e meu lado sombrio. Dele sei o que me faz sentir, pouco sei então, já que o sentir é meu.


Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 27 de junho de 2017

Encontro de necessidades



Ela não entendia. O que despertava essa vontade de errar? Porque ao lado dele sempre tinha vontade de colocar tudo a perder, de agir como se fosse uma desequilibrada? Sempre foi normal, no maior grau que essa palavra pode atingir. Nada de excepcional, nada de tão ruim. O que aquela relação incitava? Porque possuía tanta vontade de estragar tudo? Conviver com alguém admirado por todos a fazia querer chamar atenção? Que palpite pobre! E quão patética se sentia ao pensar nisso... O que é então?

Até que ponto somos capazes de saciar a necessidade do outro sem saber? É certo que pra ser o bonzinho de algum lugar alguém teria que fazer o papel do vilão. Quantas vezes paramos pra pensar na atitude das pessoas em relação a nós? Quantas vezes paramos pra refletir sobre o que fazemos para que elas reajam de alguma forma?

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Ele sempre teve medo de não ser visto, cultivava uma necessidade de aprovação e uma carência lá no íntimo. Adorava todos os elogios que dela vinham. Na maior parte do tempo estava sempre disponível para fazer tudo o que ela lhe pedia, e na maioria das vezes não recebia ao menos obrigado em troca, mas, nas raras vezes em que o elogio vinha ele esquecia todas as reclamações e já estava pronto para fazer uma série de coisas, certo de que em alguma delas seria reconhecido.

Alguém com dificuldade de cumprir suas funções e alguém que está disposto a fazer qualquer coisa pra que a outra pessoa o veja. Os complementos da vida...

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Ele era sempre o cara que cuidava e não precisava de ninguém. Estava disponível para todos a qualquer hora e nunca pedia ajuda. Ela sempre exigiu mais cuidado do que cuidou, mas dele em especial adoraria ter cuidado em alguma situação. Ele sempre estava lá oferecendo ajuda enquanto sempre recusava qualquer tipo de ajuda oferecida da parte dela. O forte e a frágil. Tudo complementarmente ótimo. Até que ela decidiu que era capaz de sobreviver sem ajuda, mas não era capaz de ficar com alguém que não a permitia participar de nenhuma forma.

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Passeando pela vida, me deparei com essas questões...

Quantas lacunas colocamos o outro para preencher? E como consideramos as pessoas que não estão dispostas a tapar nossos buracos? Quantas vezes bloqueamos as pessoas sem saber? Quantas vezes nossa autossuficiência exclui quem gostaria de fazer parte da nossa vida? Quantas vezes colocamos o peso de nossas faltas em alguém? Quantas vezes suprimos a necessidade do outro sem permitir que a pessoa aprenda a lidar com suas próprias questões? Quantas combinações devem existir? Quantos aspectos não conseguimos ver?

Somos encontros. Aprendemos com o outro o que queremos, o que gostamos, do que somos capazes e por quais lugares vamos transitar. Cada relação é única, mas a falta de reflexão em cada uma delas e o não reconhecimento da sua parcela de culpa leva a uma série de repetições.  Cada um dos personagens das situações acima são fortes candidatos a vivenciar o mesmo tipo de interação, cada pessoa que existe também, a menos que aprenda a reconhecer o seu funcionamento e se disponha a mudar.


Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 13 de junho de 2017

E quantas pessoas passam por nossa vida...



De todo tipo, nos ensinando sobre nós mesmos. Com algumas você aprende a se doar mais, com outras a se resguardar e com outras o que é uma verdadeira relação de troca. Aprende que confiar em alguém é ótimo, mas que não criar expectativas e se surpreender é melhor ainda, e que independente das decepções você vai sobreviver.

Tem quem te ensine que nada é pra sempre por mais que você se esforce e tem quem sem esforço algum é simplesmente permanente. Tem quem preze pela independência e quem só consegue se relacionar com você se te perceber dependente de alguma forma. Existem relações engraçadas, festivas e de alto astral e tem aquelas que cada encontro parece que um elefante sentou nas suas costas ou que algum pedaço seu foi arrancado. 

Tem quem não saiba como se aproximar, quem chega invadindo e quem sabe exatamente o que fazer. Tem sorrisos que de tão sinceros são retribuídos gratuitamente sem que você perceba e tem outros em que os dentes custam a aparecer em troca. Tem quem é importante sem ter uma participação significativa em sua vida e tem quem sempre esteve presente fisicamente e só. Existem aquelas pessoas que não se encaixam na sua vida mas que você daria um braço pra tê-las por perto e aquelas que se encaixam em tudo e fazem todo o sentido mas por quem você não sente nada.

Tem grupos de pessoas que te deixam a vontade mesmo se todos estiverem em silêncio e outros que mesmo com todos interagindo não parece de forma alguma ser o seu lugar. Tem quem admire tudo de diferente que há em você e quem menospreze qualquer coisa que não seja capaz de compreender. Tem quem faça joguinhos, quem manipula e quem só quer ter alguém com quem compartilhar experiencias.

Tem quem te cobre atitudes, quem pede pra você não se exceder e quem faça você se sentir na proporção certa. Tem quem te cause admiração, quem te gere repulsa e quem passa em branco. E tudo se resume a você e tudo se resume ao outro. É sua relação com você mesmo e com as pessoas ao redor, são as interações e a falta delas e tudo é viver. E tudo te traz sensações.

São afetos e desafetos e como gerenciamos. E algumas coisas talvez nem façam sentido...
Mas o importante mesmo é independente de qualquer coisa, sentir.



Andréia Ribeiro Lemos

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Saudade



Hora ou outra o buraco volta
A lembrança rodeia
Da saudade do abraço

Conselhos bons
Conselhos ruins
Presença

Lugar para ir
Lugar pra voltar
O olhar que me fazia especial

Alguém que se foi
Que jamais irá
Que transcende

A visão não alcança mais
O coração sente como se estivesse vivo
Companhia que continua caminhando ao lado... invisível.



Andréia Ribeiro Lemos

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Um conto sobre a paixão



Ela sabia que sempre que o encontrasse a sensação seria essa, algo nele a tirava da realidade e a fazia perder dias a fio, planejando encontros e conversas que tão cedo não aconteceriam. Nas primeiras vezes em que esses remotos encontros aconteceram ela reprimiu o máximo que pôde suas fantasias, ocupando-se o mais que pudesse, mas em algum momento acabava por ficar livre novamente não tendo como fugir dos pensamentos.

Deixou-se então ser inundada por eles, quanto mais pensava e fantasiava, mais se deixava levar, na esperança de que com o tempo isso simplesmente perdesse a graça, e a sensação, o êxtase de imagina-lo ao seu lado sumisse, a ponto de poder pensar nele como pensa em qualquer outra pessoa. Percebeu que nunca se cansaria e que a admiração só se intensificava. 

Embora tentasse sublimar todos os sentimentos que vinham à tona, não conseguia atribuir significados que justificassem a ligação com alguém que não fazia parte de sua vida. Não há nenhum motivo para se manter uma conexão, engraçado, talvez seja por isso que ela exista. – Pensava. Morria de medo de todas as coisas novas que andava sentindo e ao mesmo tempo se perguntava como teria sido capaz de viver tantos anos sem sentir nada daquilo.

Se perdia de todas as formas enquanto buscava controle. Medo, inquietação, taquicardia, desconfiança e até mesmo raiva sentia, mas ahhhhh! Como isso é bom. – Pensava sem entender muito bem que sentido tinha tudo aquilo. A única conclusão que chegava era de que não era capaz de viver uma ilusão, fantasiar é uma delícia, mas a realidade a chama de volta a cada piscar de olhos. O que fazer? – pensava. De todos os encontros e desencontros nunca foi capaz de esquecer, a solução então é tentar fazer da fantasia uma realidade, a resposta talvez esteja na convivência.



Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 21 de maio de 2017

Tristeza



É que depois de um tempo a tristeza aparece diferente, mesmo que quase sempre venha acompanhada de outros sentimentos desagradáveis, ela começa a fazer sentido. Surpreendentemente, agora ela vem como uma companhia nostálgica, uma velha amiga que vem visitar.

Ela vem pra dizer que algo falta, que ainda há muito o que se aprender com a vida que habita dentro de você, e na forma como a coloca pra fora. Mansamente, a tristeza bate na porta, e o que se pode fazer além de deixa-la entrar?

No momento em que ela entra vai logo te envolvendo, te dá um abraço carinhoso, te coloca num aconchegante momento letárgico e diz que sua intenção nunca foi outra que não fosse restabelecer a paz. Diz que gostaria de um momento da sua atenção, para que sem o véu da alegria você pudesse enxergar melhor seu caminho.

Um pouco ressentida com o fato de estar sempre sendo evitada, vem dizer que mesmo não sendo a melhor das companhias sua intenção é ajudar, é tirar um “bucadinho” a mais da sua ilusão, oferecer uma pausa pra reflexão e uma forma de tentar fazer com que você aprenda a adiar sua próxima visita.

“É pra isso que estou aqui!” – ela diz muitas vezes sem ser ouvida – “Para dar significado e suporte para a alegria, para que a cada dia que passe você se torne mais forte, e ela não precise ir embora com tanta frequência.”

Mal interpretada como os vilões, sua história não é contada, e sua função não é entendida. Mas, depois de tudo, é a partir dela que se tem esclarecimento e que se encontra sabedoria para lidar com a repetição de algo. As vezes é amedrontadora e te faz sentir coisas que normalmente não sentiria, da medo de se perder na sua companhia nublada, mas há quem tenha aprendido a percorre-la amigavelmente, depois que se entende que através dela se pode crescer.


Andreia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 15 de maio de 2017

As aparências


Ela acordou, virou para o lado e não sentiu vontade de sair de casa naquele dia. Havia tido uma noite ruim e sabia que seu humor não estaria agradável. Nunca se permitiu sair sem estar no mínimo impecável e aquelas olheiras não dariam para esconder. Não se permite errar, não se permite mostrar fraquezas, nunca se permitiu expressar sentimentos para alguém além de si mesma. É vista como alguém inabalável, ninguém nunca a viu fraquejar, não é a pessoa que precisa de consolo é alguém que as pessoas procuram para serem consoladas. Diz-se que é a combinação de força com doçura, mas somente ela sabe que esse seu jeito foi absolutamente moldado pelos tentáculos alheios.

Aparentemente bem, se sente cansada ao se olhar no espelho. A perfeição é cansativa, ela não te permite falhar, não te permite perder, não te permite pedir ajuda e tão pouco se colocar como igual as outras pessoas. A perfeição tem o hábito de te colocar dentro de uma redoma de vidro, um lugar onde todos podem passar e apreciar, mas ninguém pode tocar profundamente. A perfeição sufoca, a faz calar todos os seus sentimentos, fingir que não sente como as outras pessoas e viver na mais pura aparência de equilíbrio.

Levanta, deita, levanta. Anda de um lado pro outro, olha pela janela do quarto do seu apartamento e imagina qual seria a sensação de se jogar, se teria a impressão de estar voando antes de atingir o chão, se enfim se sentiria viva antes de morrer. Imaginou qual seria a reação das pessoas ao saber de sua morte e riu ao pensar que todas falariam não fazer o menor sentido que uma garota bonita com a vida perfeita tivesse algum tipo de problema. Afastou-se da janela, e afastou esses pensamentos... “Amanhã vai ser outro dia.” disse pra si mesma.

No outro dia, sem olheiras e sem qualquer vestígios de sua crise do dia anterior, saiu e seguiu sua vida, observando as pessoas ao redor, invejando cada sorriso que lhe parecia sincero e pensando no quanto despertava a inveja das pessoas de quem ela invejava de volta, e riu novamente do quanto não via sentido em tudo aquilo, afinal se ela era só aparência, provavelmente aquelas pessoas também seriam.


(Baseado no relato de uma amiga)


Andréia Ribeiro Lemos

Centro de valorização da vida - CVV
Disque: 141

terça-feira, 9 de maio de 2017

Sensibilidade



Explicação inexistente, porque as vezes o sentir é suficiente para a necessidade de se clarear uma situação. Nenhuma máscara engana as vísceras que enjoam, apertam e demonstram o incômodo. Dificilmente algo externo irá enganar as sensações, porque muito antes das desconfianças serem justificadas um aperto no peito ou uma fisgada no estômago já estavam te avisando para permanecer atento.

Palavras das quais você duvida, ações que te fazem desconfiar das intenções, companhia que não acrescenta, pelo contrário, te esmaga, prende, agride e te pune. Incoerência entre o que se vê e o que se sente, necessidade de checar as próprias percepções. Agir para provar a si mesmo que os olhos podem até não enxergar tudo, mas que os sentimentos estão na frequência correta, buscar meios de aliviar as emoções que se formam sem que se esteja capaz de compreende-las no momento.

A razão não consegue acompanhar o que uma alma sensível capta, e a razão precisa de mais do que a pura sensação para acreditar no que está se desenrolando. Ir atrás do que se precisa confirmar, para que ninguém possa colocar sua percepção em dúvida e para que quando não se possa checar uma informação, você saiba que pode fielmente confiar no que está sentindo.



Andréia Ribeiro Lemos

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Conto: João - Torturando a si mesmo


Me vi ao lado de pessoas que não quero por perto, me vi conversando sobre coisas das quais não quero falar, fui em busca de deslealdade e fiquei com raiva quando a encontrei. Fiquei irritado, inquieto e ansioso, enquanto o tempo passava por mim, enquanto estava deitado em minha cama imaginando tudo isso.

Me pego tendo pensamentos como esse e justifico minha rotina, que poucas vezes me permite ter um tempo livre, a partir deles. Porque é isso o que acontece quando posso deitar e ter um tempo para pensar em coisas aleatórias. Viajo por um mundo onde tudo dá errado, onde sou traído e perco o controle dos acontecimentos. Um lugar onde permaneço aborrecido e não posso deixar de perceber as doses de pessimismo que ando cultivando.

São nessas horas que percebo que tenho pânico de viver. Que não posso me deixar levar e que tudo o que tenho para garantir meu equilíbrio são os meus hábitos costumeiros... Ao menos assim pensava. Volto para a minha programação, onde as pessoas são tão boas em fugir de si mesmas quanto eu, e não tenho como negar que adoro essa sensação de encaixe, de sentir que me identifico com as pessoas a minha volta.

Tenho conhecimento da pessoa que sou, e não posso dizer que tenho orgulho do que me tornei, ou que gosto plenamente da minha vida, mas aparentemente pra quem está de fora tudo vai bem, e isso costuma ser o que mais importa. É pobre pensar assim e eu sei disso... Não estou satisfeito, e é claro que disso também estou ciente. Mas como eu explicaria a mudança? Como eu reagiria a quebra da rotina? O que eu faria se não tivesse um lugar em que me encaixasse?

Soa covarde, mas a maioria das pessoas pensa dessa forma. Quem sabe um dia eu consiga vencer minha programação, consiga buscar aqueles sonhos que oculto até de mim mesmo. Quem sabe um dia eu perca o medo de me conhecer, eu perca a necessidade de me fazer igual. Quem sabe um dia eu deixe de menosprezar o que sinto e tente entender ao invés de camuflar.

Quem sabe um dia ... Mas não hoje.


Andréia Ribeiro Lemos

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Marcante



Uma presença marcante tatua
Uma, duas vezes em que foi vista
Meses ou anos de convivência
Fixa

Uma presença marcante ainda que falante ou contida
É notada
É sentida
Irrita

Uma presença marcante é intrigante
Gera amor
Gera ódio
Ao mesmo tempo e na mesma medida

Uma presença marcante desnorteia
Curiosidade em quem fica
Curiosidade em quem parte
Curiosidade em quem nem chegou a entrar no seu mundo

Uma presença marcante faz permanência na imprevisibilidade
Só fica quem tem coragem
Só arrisca quem está inteiro
Só entra em contato quem sabe lidar


Andréia Ribeiro Lemos