quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Um relato de ansiedade


Penso que é meu fim...
Não que vou morrer, mas que não tenho saída, não tenho como viver...
Não penso que algo muito ruim irá me acontecer, penso que nada de bom virá...
Penso que muitas vezes me prejudico sozinho, que eu mesmo busco formas de me sentir mal...
Nada aconteceu. Nada de ruim me atingiu, não houve perdas, nem danos, mas a sensação é a de que nada mais tem conserto...
É uma vida inteira, muita coisa em jogo. Minha visão sobre a pessoa que sou, a pressão sobre a pessoa que preciso me tornar e a lucidez que preciso adquirir...
Estou bem! Claro que estou! 
Não estou bem! E como poderia?!
Tudo vai bem na mesma proporção em que não vai...
Olho pra frente e tudo parece estar em ordem...
Olho pra dentro e tudo parece não ter mais solução...
Uma coisa de cada vez, repito a mim mesmo... Mas por onde começar?
Eu vou conseguir!
Eu vou conseguir?
Enquanto isso tudo permanece estático...
Não consigo me mover.

Um terapeuta pode ajudar.
Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Solitude



Ela acordou, fez o café, se serviu de uma xícara bem grande e sentou perto da janela pra observar o vento mexer nas folhas das árvores. Não precisava olhar pro lado, nem procurar por ninguém, muito menos pegar o celular cheio de mensagens vazias, pra saber que nada importava, a muito tempo já vinha sozinha. 
Olhava as árvores, tomava café e pensava com leveza sobre todas as intempéries que passou. Um grande "ufa!" ecoou em sua cabeça. "Que bom que estou só". 
Pensou na ajuda que lhe foi negada, nas trapalhadas de quem fingia ajudar pra satisfazer o próprio ego e no quanto só conseguia sentir amor por todas aquelas pessoas. É que se não fosse por elas não teria aprendido que embora adorasse andar acompanhada sabia muito bem andar sozinha. Não teria aprendido que sua fisionomia doce passava longe, bem longe de ser frágil como supunha. Tomou outro gole de café, deu um sorriso e desejou felicidade pra todas aquelas pessoas que sem querer fizeram com que ela se sentisse mais feliz com ela mesma.
E como é doce o gosto do café quando está acompanhado por uma alma serena.


Andreia Ribeiro Lemos

domingo, 18 de fevereiro de 2018

É bonito, muito bonito... De longe!


É bonito, muito bonito... De longe.
É tentador, interessante, chamativo, reluzente, extasiante e brilhante.
Da vontade de estar perto, fazer parte, se envolver nos planos e desenvolver meios de permanecer.
Tem um quê de verão, é convidativo, acolhedor, enérgico e espontâneo.
É extrovertido, sorridente e estranhamente familiar. Penetra suas defesas e te faz duvidar da forma como vinha vivendo até ali...

Mas de perto o sorriso não é tão luminoso, na verdade é amarelado e com presas enormes. Os olhos não brilham de forma convidativa, olhando bem de perto, chegam a dar medo, e o que você achou que fosse verão na realidade era brasa.
Não é familiar porque possui afinidade, é familiar porque aprendeu a se fazer familiar a qualquer um. Não destruiu suas defesas pra te conhecer, as desfez pra usufruir da sua guarda baixa. Te mostrou uma vida diferente, mas não se engane, você só fará parte se aceitar uma porção de coisas que a maioria das pessoas não aceitaria, além de precisar lutar e correr pra conseguir um horário vago na sua agenda. 

A extroversão e a  habilidade de fazer piada com tudo conquistou uma porção de admiradores e o tornou popular, o que te faz duvidar ainda mais de sua percepção...
É que é realmente bonito, muito bonito de longe... Mas de perto, muito prazer, te apresento um manipulador egoísta.


Andreia Ribeiro Lemos

domingo, 11 de fevereiro de 2018

É diferente...


É diferente eu sei...
Não dá mais pra reconhecer verdade nos lugares de antes, mas também não dá pra dizer que tudo seja uma grande mentira.
É tudo bem diferente no final das contas. Tudo fora do contexto que aprendemos. E tudo com tantos lados e tantas perspectivas que os sentidos de certo ou errado começam a dar um nó na nossa cabeça. 
É tudo bem diferente...
Cada um no seu ritmo, cada um no seu tempo, cada um no seu caminho...
É diferente, as coisas não são como pensávamos. São melhores e ao mesmo tempo mais doídas.
Cada dia algo diferente nos afeta, e  a cada dia aprendemos a lidar melhor com isso...
E é diferente de tudo que te disseram, mas tudo bem.
No final das contas até nós somos diferentes do que esperávamos ser.


Andréia Ribeiro Lemos

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Corpo



O corpo nos conta uma história. A história sobre tudo que vivemos. Carrega as marcas de coisas que não somos capazes de entender, das que entendemos e das que só muito depois iremos compreender. Está ali, através do brilho dos olhos, da curvatura dos sorrisos, das lágrimas, do toque. Se expressa através das manchas, das rugas, das doenças, das cicatrizes e de todas aquelas marcas que na maioria das vezes não gostamos.

Esse poderoso lugar onde moramos, funciona como um aliado que vai sempre nos contar quando algo estiver errado. Nele temos impresso os lugares por onde passamos, o lugar onde estamos e onde queremos ir. Carrega os traumas e as alegrias dos caminhos que percorremos, diz de toda uma vida vivida e do que escolhemos rejeitar. Conta sobre cada amor, cada decepção, cada noite de insônia, cada emoção... E tudo o que marca por dentro, de alguma forma marca fora.

Passamos tanto tempo olhando nossos defeitos e tudo aquilo que não gostamos em nossa aparência, sem nos dar conta de que cada marca é como um mapa que te localiza dentro de sua própria história, que sem ela talvez não nos lembraríamos  onde estivemos e tudo o que precisamos passar. As cicatrizes vão contando a história do modo como sobrevivemos a vida, nos lembrando de cada situação que nos modificou e nos transformou em seres mais fortes....

E podemos até optar por nos livrarmos de todas elas, desde que não esqueçamos os motivos delas um dia precisarem estar ali.


Andréia Ribeiro Lemos