sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

TIC TAC


Dedicado a uma das melhores companhias que já tive, B.X.



O tempo me mandou um recado hoje;
Me disse que as vezes é preciso agir assim que der vontade...
O tempo me mandou um recado hoje;
Me disse que os sentimentos dos outros as vezes ficam confusos em relação aos nossos...
O tempo me mandou um recado hoje;
Me disse que não existe um momento certo para se abrir honestamente com alguém...
O tempo me mandou um recado hoje;
Me disse que as amizades não são medidas pela duração, mas pelo tempo que se leva para entender a necessidade do outro...
O tempo me mandou um recado hoje;
Me disse que os momentos que vivemos juntas, constituem metade da força individual que temos agora.


Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Encontro



A Coruja, observadora e mística, encontra-se com a Águia, também observadora e muito veloz. Ambas são aves majestosas. Enquanto a águia destemida, abre caminho e alcança seus objetivos com rapidez, a coruja sábia e possuidora do seu próprio tempo, age lentamente e observa as paisagens por onde passa. A Coruja, embora tenha planos, está sempre aberta para experiências e para o que a vida traz no momento, a Águia, traça seus objetivos e, por mais atrativos que outra experiência possa ter, não desvia o seu caminho. Por serem aves de rapino, possuem visão e audição apurados, podendo ver e ouvir além do que os outros pássaros conseguem. Observaram-se por muito tempo, instigadas e amedrontadas uma pela outra, cada uma com as suas limitações, cada uma com seus motivos para tentar uma aproximação ou para se afastar. Incapazes de darem as asas, voam cada uma a sua maneira, tendo se encontrado e se encantado uma pela outra na passagem de um objetivo em comum, porém, continuam agora cada uma no seu próprio caminho. Um encontro de mundos, de essências, que podem teimar em manter uma ligação ou voar cada uma no seu propósito.

Se encontrar nessa vida com espécies diferentes, além de natural, é enriquecedor e faz com que cada uma agregue novas características e se misture em suas diferentes essências. O que torna tão difícil que encontros não sejam somente encontros?
Os planos? As resistências? Uma infinidade de coisas que cada uma carrega...

Que contem então com o acaso, cada uma no seu caminho, no seu tempo, nos seus projetos, à espera de que um dia os voos se cruzem.



Andréia Ribeiro Lemos

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Conto: Laura


Laura em muitas de suas conversas com Margarida, sua companheira e confidente, depois de contar os abusos que sofrera, as injustiças que lhe foram dirigidas, as ofensas indevidas e todas as mazelas de uma vida que para ela no momento não fazia o menor sentido, ouviu de sua amiga que se ela fosse descrever Laura para alguém, descreveria como sendo a pessoa cuja superfície é calma e impenetrável, mas que possui o interior mais inquieto que ela já vira. Laura manteve seu semblante sereno, aquele que aprendera a fazer desde criança, e acabou mudando de assunto. O tempo foi passando, ambas conversaram sobre outras coisas, e logo se despediram e voltaram para as suas vidas.

Como de costume em sua vida, aquilo borbulhou dentro de Laura por dias. Andava por aí se sentindo uma fraude, sentindo como se fosse alguém que passou a vida fingindo ser algo que não era, alguém cuja a calma e paciência eram admiradas, mas que não sabia mais se aquilo realmente lhe pertencia, já que por dentro tudo era o total oposto. Observou-se, sempre adorou fazer isso, nem que fosse simplesmente para criticar a si mesma. Sentimentos intensos, primeira coisa que encontrou, revolta, a segunda, medo de não conseguir encontrar a diferença entre o que era e o que a forçaram a ser, parou por aí. Não fazia muito sentido, sentir tanto e agir moderadamente. Ter tido um passado assombroso e andar por aí como se fosse uma princesa que saiu de algum conto de fadas ruim. Mas, na sua experiência com o mundo, que mesmo ela sendo tão jovem já tinha visto praticamente de tudo, já havia entendido que nada faz muito sentido mesmo. Prosseguiu. Enquanto vivia dentro de sua rotina, que não era lá grande coisa, mas que ela sempre adorou, leu em algum lugar que se entender consiste em primeiro olhar para dentro de si, mas que observar o comportamento das pessoas ao redor também é fundamental para um processo de autoconhecimento. Adorava se observar, e agora aprendera a observar o que os outros despertavam nela.

Por muitas razões, há muito tempo, havia se fechado para o que lhe era externo. Aquela forma de viver tinha funcionado até ali, mas sua curiosidade, como sempre, acabou sendo maior. Observou o comportamento das pessoas ao redor, presenciou cenas que incluíam muitas atitudes precipitadas, pessoas que tiravam conclusões sobre tramas das quais não conheciam nem a metade e se viu dentro de uma porção de disputas das quais não fazia ideia de que estava participando, e não estava, mas havia sido colocada lá. Lembrou de Margarida e da frase que a acompanhou até ali, pensou sobre ser impenetrável: “para alguém que sente tanta coisa é melhor mesmo que quase ninguém possa ver o que se passa no meu interior”. Pensou sobre o sentimento que estava carregando: "seria mesmo ela uma enganação?" Sentir e controlar seus atos é fingir ser o que não é? Ou é ter consciência e saber se manter equilibrada diante das situações? Gostou da segunda opção, afinal não mentia sobre o que sentia, só sabia distinguir para quem contar.

Engraçado como coisas consideradas pequenas nos levam a tomadas de consciência. Continuar sentindo e não se comprometer ou agir de forma desordenada é o que queria continuar fazendo, adorou a forma como era, integrou mais uma peça em si e prosseguiu.



Andréia Ribeiro Lemos