Me vi ao lado de pessoas que
não quero por perto, me vi conversando sobre coisas das quais não quero falar,
fui em busca de deslealdade e fiquei com raiva quando a encontrei. Fiquei
irritado, inquieto e ansioso, enquanto o tempo passava por mim, enquanto estava
deitado em minha cama imaginando tudo isso.
Me pego tendo pensamentos
como esse e justifico minha rotina, que poucas vezes me permite ter um tempo
livre, a partir deles. Porque é isso o que acontece quando posso deitar e ter
um tempo para pensar em coisas aleatórias. Viajo por um mundo onde tudo dá
errado, onde sou traído e perco o controle dos acontecimentos. Um lugar onde
permaneço aborrecido e não posso deixar de perceber as doses de pessimismo que
ando cultivando.
São nessas horas que percebo
que tenho pânico de viver. Que não posso me deixar levar e que tudo o que tenho
para garantir meu equilíbrio são os meus hábitos costumeiros... Ao menos assim
pensava. Volto para a minha programação, onde as pessoas são tão boas em fugir
de si mesmas quanto eu, e não tenho como negar que adoro essa sensação de
encaixe, de sentir que me identifico com as pessoas a minha volta.
Tenho conhecimento da pessoa
que sou, e não posso dizer que tenho orgulho do que me tornei, ou que gosto
plenamente da minha vida, mas aparentemente pra quem está de fora tudo vai bem,
e isso costuma ser o que mais importa. É pobre pensar assim e eu sei disso...
Não estou satisfeito, e é claro que disso também estou ciente. Mas como eu
explicaria a mudança? Como eu reagiria a quebra da rotina? O que eu faria se
não tivesse um lugar em que me encaixasse?
Soa covarde, mas a maioria
das pessoas pensa dessa forma. Quem sabe um dia eu consiga vencer minha
programação, consiga buscar aqueles sonhos que oculto até de mim mesmo. Quem
sabe um dia eu perca o medo de me conhecer, eu perca a necessidade de me fazer
igual. Quem sabe um dia eu deixe de menosprezar o que sinto e tente entender ao
invés de camuflar.
Quem sabe um dia ... Mas não
hoje.
Andréia Ribeiro Lemos
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