Na vida a única certeza que realmente temos é a de que morreremos, mas não estamos preparados e não sabemos o que fazer quando a morte nos atinge. Não a nós propriamente ditos, mas as pessoas que amamos.
Sentimentos de culpa, fixação em memórias perdidas, vontade de voltar no
tempo, não conseguir lembrar da pessoa sem sentir uma tristeza profunda, o que
fazer? Não existe melhor maneira de lidar com a dor a não ser enfrentando-a.
Enfrentar nesse caso quer dizer sentir. Apenas sinta! A morte é irremediável,
mas o seu sentimento em relação a ela é mutável e depende da sua vontade.
Perder alguém querido significa perder uma parte de você, seja alguém muito
próximo ou alguém que faça parte da sua história de alguma forma. Essa parte de
você que se foi pode e deve ser transformada, simbolizada de maneira diferente.
Não é fácil e não é uma simples decisão, é um processo, transformar a culpa em
compaixão por si mesmo, em outras palavras em um simples “eu sei que foi pouco
e que eu podia fazer diferente, mas eu fiz o que pude, fiz o que sabia, fiz o
que sentia que devia fazer no momento”. Transformar a tristeza que a falta da
pessoa faz em alegria por ter vivido ao seu lado, se sentir honrado por ter
feito parte da vida de alguém tão querido que certamente teve muito a te
ensinar e a aprender com você.
Tudo o que se diz a esse respeito pode soar como um clichê ou como
autoajuda barata e sempre será pouco. O caminho rumo a superação vem da pessoa
que sente, do seu modo de internalizar a morte, da sua vontade de continuar com
tudo o que te restou. Superar não é e nunca será esquecer, as pessoas que
amamos ficam em nós e se existe algo do qual não devemos temer é o medo de
esquecer as pessoas que amamos que se foram. Superar nesse caso quer dizer
lembrar com sabedoria, lembrar com inteligência emocional o suficiente para
saber que independente do plano que nos separa a sensação que temos ao lembrar
de alguém é a forma como ela gostaria de ser sentida, e de viver através de
nossas memórias. É certo que ninguém pode afirmar com certeza o que existe além
de nós, além da vida, mas independente da sua crença e da sua religião o que
esperamos é que haja um reencontro e que em algum momento todos estaremos
juntos. Quando esse dia chegar de que forma você gostaria de revelar aos seus
entes queridos a falta que eles lhe fizeram? Gostaria de falar que perdê-los
fez com que você se abdicasse totalmente da sua vida ou que você os usou como
exemplo e como impulso para uma vida feliz? Mesmo que seja difícil e que nossa
mente nos leve por vezes a caminhos tortuosos a escolha sempre será nossa. Vai
lembrar com alegria das pessoas que você ama ou vai usa-las como empecilho na
sua vida?
Tudo o que vivemos está tatuado em nós, nossos medos, frustrações,
desejos, saudade... e muito, muito mais. O que devemos sentir é saudade, essa
saudade que rasga de dentro pra fora e que não tem meios de ser solucionada,
mas que se quisermos nos impulsiona a viver momentos memoráveis com as pessoas
que amamos que ainda estão perto de nós e que serve de exemplo para que não
desperdicemos momentos preciosos por seja qual for o motivo. É lembrar da
pessoa com carinho e com uma nostalgia terrível mas conseguir dizer para ela
onde quer que ela esteja: “Um dia a gente se vê!”
Andréia Ribeiro Lemos
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