quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A ROSA



Dona de uma sensibilidade exacerbada, nasceu parecendo captar a necessidade dos outros. Viveu sendo podada, na maioria das vezes por ela mesma. Escondeu suas pétalas mais bonitas e disfarçou seu perfume, na esperança de viver camuflada entre as outras flores e não aborrecer nenhuma delas. A cada passo que dava descobria novas habilidades e seguidamente as escondia. Viveu nivelada e cumprindo as mesmas funções que todas as rosas realizavam, mas sempre carregando certa insatisfação. Sua tendência a sair do óbvio, vez ou outra aparecia, e era consequentemente censurada.

O que podia afinal de contas uma rosa fazer de tão diferente? Nem ela tinha essa resposta. Era uma rosa, e assim como todas as outras, era a única coisa que sabia ser. Mas, mesmo assim, parecia não fazer parte do jardim e nem ser querida pelas outras flores. O que incomodava afinal? Um belo dia decidiu não mais se esconder. Mostrou as mais bonitas pétalas que possuía, mostrou as suas habilidades e libertou seu perfume. Parou e observou... Observou um pouco mais e percebeu que pouca coisa mudou. Que conclusões tirar sobre isso?

A verdade é que o incômodo muitas vezes não tem relação com as potencialidades de cada uma das flores, mas com a incapacidade das outras de sair do convencional e descobrir novas habilidades. O mundo das flores é competitivo e cheio de buquês (grupos), o que dizer da flor que nunca quis fazer parte de um ramo? O que dizer da flor que precisa ser podada três vezes mais para permanecer num mesmo jardim?

Sem que nenhuma outra flor precisasse dizer nada, ela mesma disse para si mesma que, se sabia exalar perfume sozinha, assim o faria, até que encontrasse quem por essência se parecesse com ela.



Andréia Ribeiro Lemos

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