Dona
de uma sensibilidade exacerbada, nasceu parecendo captar a necessidade dos
outros. Viveu sendo podada, na maioria das vezes por ela mesma. Escondeu suas
pétalas mais bonitas e disfarçou seu perfume, na esperança de viver camuflada
entre as outras flores e não aborrecer nenhuma delas. A cada passo que dava
descobria novas habilidades e seguidamente as escondia. Viveu nivelada e
cumprindo as mesmas funções que todas as rosas realizavam, mas sempre
carregando certa insatisfação. Sua tendência a sair do óbvio, vez ou outra
aparecia, e era consequentemente censurada.
O
que podia afinal de contas uma rosa fazer de tão diferente? Nem ela tinha essa
resposta. Era uma rosa, e assim como todas as outras, era a única coisa que
sabia ser. Mas, mesmo assim, parecia não fazer parte do jardim e nem ser
querida pelas outras flores. O que incomodava afinal? Um belo dia decidiu não
mais se esconder. Mostrou as mais bonitas pétalas que possuía, mostrou as suas
habilidades e libertou seu perfume. Parou e observou... Observou um pouco mais
e percebeu que pouca coisa mudou. Que conclusões tirar sobre isso?
A
verdade é que o incômodo muitas vezes não tem relação com as potencialidades de
cada uma das flores, mas com a incapacidade das outras de sair do convencional
e descobrir novas habilidades. O mundo das flores é competitivo e cheio de
buquês (grupos), o que dizer da flor que nunca quis fazer parte de um ramo? O
que dizer da flor que precisa ser podada três vezes mais para permanecer num
mesmo jardim?
Sem
que nenhuma outra flor precisasse dizer nada, ela mesma disse para si mesma
que, se sabia exalar perfume sozinha, assim o faria, até que encontrasse quem
por essência se parecesse com ela.
Andréia
Ribeiro Lemos
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